Número diminuiu no último ano, quando metade da população estava obesa; pessoas contam como superaram o excesso de peso
Atualizada às 8h
Aproximadamente 40% da população do Grande ABC está enquadrada em algum grau de obesidade de acordo com relatório de 2024 do Sisan (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), avaliado com base na taxa de IMC (Índice de Massa Corporal), que calcula a proporção da altura com o peso. De um total de 141.559 pessoas avaliadas nas sete cidades, 57.851 são obesas. Apesar de alto, o número caiu em relação a 2023, quando 48% dos moradores do Grande ABC estavam acima do peso.
A profissional de marketing e moradora de São Bernardo, Thais Araujo de Freitas, 30 anos, passou metade da vida brigando com a balança, até decidir recorrer à cirurgia bariátrica. “Comecei a engordar aos 16 anos. Lidava com muita ansiedade e usava a comida como válvula de escape. Cheguei a pesar 143 quilos (para 1,62 metro de altura). A cirurgia não era minha primeira opção, mas comecei a ter muitas limitações, como amarrar o cadarço do sapato, tenho asma e estava muito ofegante, ou seja, não tinha mais qualidade de vida”, conta.
A são-bernardense emagreceu 62 Kg e saiu do manequim 54 para o 44. “Passei o ano de 2023 me preparando e em janeiro de 2024 operei. As pessoas acham que com a bariátrica é fácil, mas o que você precisa mudar é a sua mente, porque a gente não opera o cérebro, então as coisas precisam andar em conjunto, e a terapia é parte essencial do tratamento”, avalia.
O médico Eduardo Vieira, gerente médico do Qualivida da Hapvida, programa de redução de peso que atende 1.886 pacientes do Grande ABC, explica que obesidade é uma doença multifatorial. “Entre as principais causas, destacam-se os fatores genéticos, que podem predispor a pessoa a acumular mais gordura, e os fatores ambientais, como o estilo de vida moderno. A dieta rica em alimentos ultraprocessados e o sedentarismo contribuem para o aumento de peso”. Fatores emocionais têm grande influência no desenvolvimento da obesidade, segundo Vieira. “Muitas pessoas recorrem à comida como uma forma de lidar com o estresse e sentimentos como ansiedade e tristeza”, diz o médico.
O corretor de imóveis são-bernardense Eduardo Cezar dos Santos, 46, há dois anos decidiu mudar, após uma viagem de avião. “Eu não cabia em um acento e fiquei torcendo para não ter nenhum passageiro na poltrona do lado. Aquele constrangimento foi marcante para mim e decidi mudar”, diz.
Com medicação ele emagreceu seus primeiros quilos, mas interrompeu por causa dos efeitos colaterais. “Iniciei com 132 kg (para 1,71 metro de altura) e agora estou com 112 Kg. Minha meta é perder mais 10 Kg. Faço academia desde janeiro do ano passado e corro hoje 9 quilômetros na esteira. É muito gratificante, umas das melhores coisas, e eu nem gostava de academia. Voltei a jogar futebol também. Outra gratificação é conseguir comprar roupas e elas servirem”, comemora.
PRECONCEITO
Thais diz que, depois que emagreceu, percebeu que o preconceito com pessoas obesas é uma realidade. “Era algo em que não acreditava, mas percebi que as pessoas olham diferente para quem é obeso. Quando você emagrece é mais respeitado e visto com mais credibilidade. Mas ninguém chega nesse nível porque quer, eu não me enxergava tão gorda”, destaca.
De acordo com especialistas do Painel Brasileiro de Obesidade, que possuem estudos que indicam o preconceito contra pessoas com obesidade até em ambientes como consultórios e hospitais, que a doença ainda é amplamente tratada de forma estigmatizada na sociedade. “Pessoas com obesidade são frequentemente vistas como preguiçosas, desleixadas, ou como se estivessem em sua condição por falta de força de vontade, o que ignora completamente a complexidade da doença, que envolve fatores genéticos, emocionais, sociais e ambientais”, destaca.
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