Memória – Esse trabalho que você está fazendo, quem está subvencionando?
Dra. Gisela – É uma bela de uma pergunta.
Memória – Ou você também é uma missionária?
Luciana Costa – Acho que todos.
Memória – Quer dizer: é um trabalho técnico que você está realizando sem a ajuda da Prefeitura, da Câmara, do Estado, de ninguém...
Na terceira noite, uma mescla. Quarta-feira, 14 de junho de 1989. Câmara Municipal de Rio Grande da Serra. Falou-se da capela de Santa Cruz e de São Sebastião. E se fez uma viagem à história da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
Frio lá fora, onde se ouvia o apito do trem; quente no plenário do Legislativo onde se falou de outro tipo de política: a cultural.
APRESENTAÇÃO
Disse a Dra. Gisela Leonor Saar na abertura daquela terceira noite em que Rio Grande da Serra pensou o Grande ABC:
A arquiteta Luciana Costa está se dedicando, aqui em Rio Grande da Serra, ao trabalho de restauração da nossa capela. Ela teve notícias, entrou em contato com a minha irmã, com o pessoal aqui do Rio Grande, e com muito amor está se dedicando.
Ela vem de São Bernardo em dia de chuva.
Teve uma tempestade de pedra, e ela veio também. Nós às vezes temos algumas reuniões muito animadas, às vezes com dois, com três. Mas ela (a arquiteta Luciana) está aqui trabalhando.
UMA ARQUITETA
Luciana Fernanda Costa Pacheco. Arquiteta e paisagista.
O levantamento destas paredes sempre traz elementos muito mais profundos do que vocês possam imaginar. Esta restauração busca o resgate das raízes, da identidade e da origem de toda a população de Rio Grande.
Esta singela capela, de características jesuíticas, viu fatos históricos passar à sua frente, como o bandeirismo ofensivo. Ou seja: a caçada dos índios no sertão.
Antigamente, Santo André, São Bernardo, eram um grande sertão. Buscavam-se estes índios para utilização como mão-de-obra escrava
E aqui foi passagem de tropeiros que rumavam ao Litoral para levar riquezas para além-mar.
NOTA DA MEMÓRIA – Arquiteta Luciana Costa deixa registrado nos anais da Memória do Grande ABC uma verdadeira aula técnico-histórica sobre a capelinha que um dia quase foi posta inteiramente ao chão. E que mulheres corajosas como Dra. Gisela e dona Carla – que Luciana citou – conseguiram salvar. E que a própria Igreja quis derrubar.
A TORRE
Disse Dra. Gisela na sequência da aula de Luciana Costa:
Eu fui ao Rio de Janeiro especialmente para pesquisar a torre da capela. Esta abóboda, a cruz, o galo e o globo sempre me chamaram atenção.
NOTA DA MEMÓRIA – E a cruz, o galo, o globo da capelinha de São Sebastião só não se perderam porque Dra. Gisela os recolheu em sua casa, os protegeu, os salvou. Hoje estão de volta à capela revigorada.
O PAROQUIANO
Vicente Rago, do Conselho paroquial em 1979 quando a capela começou a ser derrubada.
(...) não estava constando nada de demolição. Quando voltei à noite, umas oito para nove horas, estava lá o padre que não ouvia o Conselho. Estavam mais algumas pessoas, inclusive uma das irmãs. Ela não se identificou. Correu na hora. Foi na hora que perdi a fé nas pessoas que estavam lá, não na religião.
VERA CRUZ
Antonio de Andrade, professor universitário, memorialista, estudioso do cinema, em especial da história da Vera Cruz.
No plenário da Câmara Municipal de Rio Grande da Serra, Andrade narrou a linda história desta companhia cinematográfica que, a exemplo da capelinha de São Sebastião, correu o risco de perder as suas próprias paredes.
São Bernardo não tinha nada a ver com cinema. Acontece que o Matarazzo tinha feito, antes do cinema, uma experiência com criação de galinhas. Ele tinha um terreno grande em São Bernardo e começou a desenvolver a criação de galinhas. Que não deu certo. Houve uma doença. Matou tudo. E naquela área foram levantados os pavilhões gigantes de uma companhia cinematográfica.
Começa, então, essa aventura de fazer cinema em escala industrial no Brasil. Os artistas, os técnicos – técnicos de 24 nacionalidades diferentes – são contratados a peso de ouro.
MAIS UM PROJETO
Mario Bolognesi, diretor de Cultura da Prefeitura de São Bernardo e, em 1989, presidente da Comissão pró-restauração dos estúdios da Vera Cruz.
A ideia básica da comissão é transformar um dos pavilhões no museu da Vera Cruz.
O outro pavilhão teria pelo menos duas salas de projeção.
Também iremos propor a criação de um shopping cultural. O que é isto?
NOTA DA MEMÓRIA – O que isto? Perguntou o diretor. E 35 anos se passaram. O que é hoje a Vera Cruz neste espaço nobre do Jardim do Mar, em São Bernardo, que já foi um imenso galinheiro...
Crédito da foto 1 – Banco de Dados
UM PRESÉPIO. A capela histórica de Rio Grande da Serra em 1976. Três anos depois, em 1979, foi derrubada parcialmente. Meu Deus, como compreender uma ação destas em pleno século XX?
DIÁRIO HÁ 30 ANOS
Domingo, 7 de maio de 1995 – Edição 9007
II GUERRA – A rainha-mãe Elizabeth abria a festa pelos 50 anos do triunfo sobre a Alemanha.
No Grande ABC, pracinhas lembravam o drama da guerra. “Éramos como moscas na neve para o alemão atirar”, dizia Alcides Tomanin ao repórter Irineu Masiero.
FUTEBOL – Região abria torneio de várzea feminino, com dez equipes. Na organização, o Alameda Glória/Paramount.
IMPRENSA – Rádios livres lutavam pela legalização. Grande ABC possuía quatro emissoras clandestinas que buscavam operar dentro da lei: Patrulha FM, Comando, Sistem e Manifesto.
EM 8 DE MAIO DE...
1955 – Do correspondente do Estadão em Santo André – No dia 8, sob a presidência de Fábio Kowarick, o Rotary Santo André realizou no Restaurante Anchieta um jantar em homenagem ao Dia das Mães.
O sócio Corrêa Junior proferiu palestra sobre mães de sábios, poetas, cientistas, guerreiros, músicos, e sobre a mãe anônima.
NOTA DA MEMÓRIA – O Restaurante Anchieta ficava na Praça Embaixador Pedro de Toledo, o Largo da Estátua.
MUNICÍPIOS BRASILEIROS
No Estado de São Paulo, hoje é o aniversário de Itapecerica da Serra (1877) e São Luís do Paraitinga (1773)
No Rio de Janeiro, Duas Barras, Saquarema e Silva Jardim
No Rio Grande do Norte, Jardim dos Angicos, Messias Targino e Parazinho
E mais: Anastácio e Terenos (MS), Barra de Santa Rosa e Jericó (PB), Braga (RS), Ibaretama (CE), Maragogipe (BA), Palhano (CE) e Passagem Franca (MA).
HOJE
Dia do Pintor e do Artista Plástico
Dia Internacional da Cruz Vermelha
Dia da Vitória (fim da 2ª Guerra Mundial em 1945)
Dia do Profissional de Marketing
Dia Nacional do Turismo.
São Vitor
8 de maio
Ou Vittore (para os italianos). Soldado africano proveniente da Mauritânia, foi martirizado em Milão no 303, pois escolhera Deus ao imperador. É um dos santos mais queridos pelo povo milanês e patrono dos prisioneiros e exilados.
Ilustração: Terra Santa Cruz
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