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Dérek Bittencourt
Marcos Mion cresce, desenvolve, amadurece e se transforma em exemplo.
Marcos Mion sempre foi uma daquelas figuras públicas que geram identifica-ção. Quando surgiu, no seriado Sandy & Junior, fazia papel de um personagem que era apaixonado pela cantora, assim como milhares de jovens pelo País. Pouco tempo depois, se transformou e estava à frente do programa Piores Clipes do Mundo, na MTV, com linguagem escrachada, tirando sarro de artistas amadores até os mais consagrados, provocando gargalhadas com piadas sem muito filtro, e levando gírias para as conversas dos adolescentes da época. Foi dali para a TV aberta, na qual seguiu com seu estilo satírico, abrindo as portas e mostrando o caminho para que outros, como Pânico e CQC, pudessem fazer humor, arrastando seu público fiel e conquistando muitos mais. Não necessariamente nesta ordem, ele se casou, passou a se dedicar ao fisiculturismo, virou apresentador de reality show, e alcançou aquele que considera seu maior trunfo: se tornou pai. Três vezes, inclusive, de Romeo, Donatella e Stefano, frutos do casamento com Suzana Gullo.
"Comecei cedo, e lembro que os críticos me chamavam de enfant terrible na MTV. Eram coisas com as quais as pessoas não estavam acostumadas, a molecada pirava. Mas quem tinha o poder de escrever uma crítica, oscilava entre achar o máximo ou completamente fora de mão. Mudar o cenário é muito ousado e, graças a Deus, fiz isso muitas vezes e continuo fazendo."
Atualmente com 42 anos, Mion celebra pela 16ª vez o Dia dos Pais nessa condição e agora serve como referência para pais de primeira viagem ou até mesmo mudando a cabeça dos papais à moda antiga. Romeo, 16, é autista, e o apresentador entrou de cabeça na luta pela causa. E tem nos caçulas Donatella, 12, e Stefano, 11, além da mulher, Suzana, 43, os grandes parceiros de vida tanto para cuidar do primogênito como para viver, compartilhando grande parte do dia a dia dessa 'Mionzada' nas redes sociais. Mas, claro, com muito cuidado com excessos na exposição.
"Meus filhos aparecem muito nas minhas redes, mas é controlado, debaixo da minha lupa. São loucos para ter canal no YouTube, conta própria no Instagram, numa época em que 90% dos amigos têm. Rede social é proibido na minha casa. Se os criadores recomendam uma idade mínima e não deixam os próprios filhos entrarem, por que eu vou deixar os meus? Sabemos dos malefícios para mentes em formação. O quanto influências negativas e padrão inatingível de beleza e felicidade podem afetar negativamente a saúde mental de crianças e pré-adolescentes. Num primeiro momento, eles tiveram conta fechada no Instagram. Só para a família. Stefano começou a sofrer do mal de querer postar em vez de viver. Estava fazendo algo legal e pedia meu telefone para postar. Passa a ser fornecedor de imagem do que é a sua vida em vez de desfrutar o presente. Simplesmente cortei. Expliquei como funcionam os algoritmos, que é perigoso", explica.
Esta é apenas uma mostra da atividade constante de Marcos Mion na formação e no desenvolvimento dos filhos. Algo que ele vem construindo desde jovem. "Eu me considero um homem realizando o maior sonho de sua existência. Desde muito cedo, ainda na adolescência, desenvolvi um desejo enorme em me tornar pai, ter a experiência de dividir meu conhecimento, experiência de vida e, claro, cuidar. Eu sinto uma necessidade enorme de cuidar de quem precisa. E nada mais natural – e intenso – do que cuidar dos que são minha continuidade. Mas uma coisa eu reforço: colocar uma criança no mundo é de uma responsabilidade enorme. O que considero o sucesso da minha empreitada na paternidade é a base familiar sólida que construí."
Em 2005, aos 26 anos, Marcos Mion vivia grande fase na carreira televisiva e, em junho, nasceu Romeo. Dali em diante sua vida mudou. Era a realização de um desejo de seu 16º aniversário, mas com algumas particularidades. "Pensei em ser pai pela primeira vez quando cortei meu bolo de aniversário de 16 anos. Queria passar adiante quem sou. Minha bagagem sempre foi diferente da idade que tinha. Perdi várias namoradas porque queria tanto ter filho e elas iam embora. Eu precisava realmente encontrar a Suzana, que pensava como eu. A gente, com seis meses de namoro, estava esperando filho e casando. Daí chega o Romeo. Ele foi a grande sorte da minha vida, minha maior bênção, porque aquele moleque que eu era, naquele momento de juventude, sucesso, dinheiro... E ele nasceu prematuro. Você tem noção do que é segurar uma vida humana na palma da mão? Se a sua vida não mudar nesse momento, meu amigo, não vai mudar nunca mais. E, por conta do Romeo, com todo um quadro de extremo cuidado, ter vindo primeiro, isso me moldou. Olha, eu sou muito elogiado pela forma que crio meus outros dois filhos. Mas é que, para mim, a primeira experiência foi sob a ótica do autismo para todas as situações, e isso te dá muita casca, te exige muito. Aliás, acho que tudo o que construí nesses meus mais de 20 anos de carreira profissional e que me fez ter visibilidade, poder do microfone, de ser ouvido, tenho certeza de que foi para poder dar voz ao meu filho e à causa autista", defende.
E, de fato, Marcos e Romeo são referências no assunto. A ponto de, em janeiro de 2020, ter sido sancionada a Lei Romeo Mion, que institui a CPTEA, carteira de identificação que garante os direitos dos autistas como PCD (Pessoas Com Deficiência). E a ideia do artista é seguir à frente dessa luta. "Meu sonho é colocar o autismo num primeiro plano, no sentido de ter um holofote em cima, de ser um tema tirado da escuridão, e, principalmente, de que seja encarado como uma alegria. Muita gente fica com a impressão de que o Romeo quase não é autista. Mas para chegar neste estágio, nós passamos por todas as fases e continuamos passando. E faço questão de falar: é difícil e é difícil todo dia. O segredo do autismo para você conquistar qualquer coisa, qualquer grau de evolução, são dois fatores: o primeiro é paciência, o segundo é amor. Mas é um amor diferente, porque é um amor que tem de existir até quando você está cansado de amar, um amor que tem de existir sem ter retribuição. E aí entra a paciência, porque vai demorar e você não pode desistir, porque se você desistir, você vai estar desistindo do seu filho", admite.
Se tem um rótulo que o apresentador rechaça é o de ‘paizão’. Segundo ele, é apenas um pai, como todos deveriam ser. Mas, mesmo com todo este histórico de molecão, do perfil brincalhão, Marcos Mion salienta alguns pontos como fundamentais na construção da paternidade.
"De tudo o que acho mais importante que os pais entendam é: ser bom pai não é ganhar o troféu de pai amigão, o mais legal do ano. Não tenho problema em dizer ‘não’ e pôr limite como educador. Mas também é necessário que o amor e o afeto sejam a base de toda a relação familiar. Amor nunca é demais. Sofro por estar na metade para o fim do período em que a necessidade da minha presença é 100%. Eles estão crescendo! O desmame está sendo uma treta. Converso com minha mãe (Carmen Mion) semanalmente. Ela é presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise. A complexidade em todos seus níveis vai fazer parte constante da sua vida no momento em que você se propõe a ser pai."
Mion escreveu um livro para cada filho. O primeiro, 'A Escova de Dentes Azul' (Panda Books), é infantil, em homenagem a Romeo e explica o autismo para crianças. O segundo, 'Pai de Menina' (Editora Planeta), em referência a todos os aprendizados com Donatella. E, o terceiro, 'Detone Este Livro Com Seu Filho' (Companhia das Letras), inspirado na relação com Stefano. "Nos meus livros, compartilho minhas experiências, os caminhos que deram certo no meu exercício da paternidade e convido a reflexões. Cada um deles tem sua aplicação e está ligado a um dos meus filhos."
Desde o início da pandemia, Marcos Mion se debruçou sobre a criação de conteúdos para as redes sociais e para seu canal no YouTube, com entrevistas, quadros, opiniões e, claro, presença da família, incluindo os cães, que ganham cada vez mais espaço nos stories do artista. Recentemente, foi anunciado pela Netflix como novo contratado e deverá ser apresentador de um reality show na plataforma, além de estar cotado para um documentário sobre autismo. "A ida à Netflix é reconexão com minhas raízes. Explodi a zona de conforto. Ir para uma plataforma de streaming com liberdade e possibilidades de criação tão extensas, com alcance mundial, é a mesma sensação de entrar na MTV em 2000. E isso é, no mínimo, extremamente estimulante", considera.
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