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Vinícius Castelli
Envelhecimento, histórico familiar e obesidade são fatores de risco para doença
Neste mês se realiza a campanha Novembro Azul, que tem como meta conscientizar a população a respeito do câncer de próstata. Segundo estimativa do Inca (Instituto Nacional do Câncer), só neste ano os casos diagnosticados da doença chegarão a cerca de 68 mil, mesmo número de 2018. Em 2017 foram 15.391 mortes.
A próstata é uma glândula que só o homem possui e que se localiza na parte baixa do abdômen. Ela é um órgão pequeno, tem a forma de maçã e se situa logo abaixo da bexiga e à frente do reto (parte final do intestino grosso), segundo a Ariane Vieira Scarlatelli Macedo, cardiologista, vice-presidente do grupo de estudos brasileiro de cardio-oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A profissional explica que a próstata é responsável por produzir parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozoides, liberado durante o ato sexual.
“Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A maioria, porém, cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³) que não chega a dar sinais durante a vida nem a ameaçar a saúde do homem”, explica a doutora.
Camilla Yamada, oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que o câncer, independentemente de onde se inicia, é um crescimento desordenado de células, que não mais obedece o comando do corpo e pode invadir outros órgãos e tecidos. “A célula do câncer de próstata tem origem de uma célula da próstata normal, portanto, apresenta algumas características em comum, como resposta ao hormônio masculino (testosterona)”, explica.
A oncologista diz que os principais fatores de risco da doença são o envelhecimento, histórico familiar de câncer de próstata, obesidade, fatores genéticos (na minoria dos casos) e alterações hormonais, por exemplo. Além disso, segundo a Dra. Ariane, exposições a aminas aromáticas (comuns nas indústrias química, mecânica e de transformação de alumínio), arsênio (usado como conservante de madeira e como agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo, HPA (Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos), fuligem e dioxinas estão associados ao câncer de próstata.
Alex Meller, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que uma próstata saudável tem o tamanho de uma noz. Ele avisa que o câncer de próstata é o mais frequente no sexo masculino (excluindo o de pele), atingindo um em cada oito homens. “Como o tumor sempre é assintomático no início, o check up regular se torna necessário para identificar a doença. A vantagem da identificação precoce é a chance de cura maior quando detectado no seu início”, afirma.
Os especialistas afirmam que os exames devem ser solicitados após avaliação médica. Em geral, os exames de rastreamento do câncer de próstata são recomendados em torno dos 40, 50 anos de idade. “O câncer da próstata pode ser identificado com a combinação de dois exames: dosagem de PSA: exame de sangue que avalia a quantidade do antígeno prostático específico; e o toque retal: como a glândula fica em frente ao reto, o exame permite ao médico palpar a próstata e perceber se há nódulos (caroços) ou tecidos endurecidos (possível estágio inicial da doença). O toque é feito com o dedo protegido por luva lubrificada. É rápido e indolor, apesar de alguns homens relatarem incômodo e terem enorme resistência em realizar o exame”, afirma a cardiologista.
Ela ressalta que nenhum dos dois métodos tem 100% de precisão. Por isso, podem ser necessários exames complementares. Segundo a doutora, a biópsia é o único procedimento capaz de confirmar o câncer. “A retirada de amostras de tecido da glândula para análise é feita com auxílio da ultrassonografia”, diz.
Para Meller, é necessário se falar mais sobre a doença. Ele acredita que ainda existe um pensamento 'antigo' de que o homem não fica doente, de que ele não precisa ir ao médico e, além disso, preconceito quanto ao exame de toque. O especialista afirma que um estudo feito pela Sociedade Brasileira de Urologia apontou que 51% dos homens, ou seja, pouco mais da metade, nunca foram a um urologista. “Normalmente as mulheres são orientadas pelos pais a realizarem exames anuais com o ginecologista desde o período da adolescência associado ao início da menstruação e os cuidados com o útero. Esse hábito levado a vida adulta as torna mais preocupadas com a saúde. Claro que existem exceções, mas muitos homens vão ao médico porque a mulher agenda a consulta”, diz. Para a cardiologista, alguns homens ainda se sentem desconfortáveis com a necessidade de realizar o exame de toque. Porém, ela acredita que esse cenário tem diminuído progressivamente.
Para doença localizada (que só atingiu a próstata e não se espalhou para outros órgãos), Ariane afirma que as opções são cirurgia, radioterapia e até mesmo observação vigilante. “Para doença localmente avançada, radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal têm sido utilizados. Para doença metastática (quando o tumor já se espalhou para outras partes do corpo), o tratamento mais indicado é a terapia hormonal”, diz. Segundo ela, a escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida após médico e paciente discutirem os riscos e benefícios de cada um.
Não tem melhor receita, portanto, do que ir ao médico regularmente, fazer os exames e os tratamentos recomendados, além de levar um estilo de vida saudável e buscar informações em fontes confiáveis.
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