Cotidiano Titulo Cotidiano
Em busca de um refúgio
Rodolfo de Souza
08/05/2025 | 11:08
Compartilhar notícia


Costumo navegar pelo mar revolto dos noticiários todos os dias. Ele me mantém informado e, ao mesmo tempo, saturado de tanta informação, sobretudo, daquelas que conduzem ao desalento. Por vezes, chego a pensar que talvez fosse mais prudente para com a minha saúde mental me permitir surfar somente nas ondas da ficção, seja por meio da leitura ou pela escrita. Uma forma deliciosa de me desligar da realidade em que estamos mergulhados. Refiro-me a mundos paralelos onde tudo pode acontecer e, dos quais, podemos nos safar num estalar de dedos, caso não sejam do nosso agrado seus ambientes, seus personagens… Parece uma excelente alternativa, afinal, para se acalmar os nervos que ultimamente andam à flor da pele.

O silêncio é outro recurso do qual faço uso como forma de não enlouquecer, já que o turbilhão de notícias ruins que nos fazem girar em meio a paus, pedras, poeira, fumaça e gritos desesperados tiram de um ser humano normal qualquer fiapo de esperança de um dia viver num mundo melhor, livre de entidades inferiores que estão por toda parte e que infestam, principalmente, as casas legislativas do país. Gente da pior espécie que detém as rédeas do poder e que, portanto, tende a transformar a vida do cidadão comum num inferno com ligeira aparência de paraíso.

Isso porque, a sociedade, que finalmente livrou esta terra de meu Deus de uma criatura abominável, que esteve no seu comando, distraída que é, tornou a colocar no poder uma legião de outras criaturas, da mesma forma desprezíveis, para aterrorizar a existência de gente que trabalha de verdade, com planos mirabolantes, todos explanados com sorriso e olhar terno que fazem o incauto eleitor considerá-las novamente a melhor opção para o pleito que se avizinha. Falo do eleitor que passou longe dos bancos escolares, claro, ou que lá esteve só para encontros sociais, fenômeno tão comum em passado recente e nos dias atuais. Falo de pessoas que não experimentaram a evolução intelectual, tendo estacionado suas mentes nos porões do intelecto. Gente que jamais tomou nas mãos um livro e que nem desconfia do tamanho da sua ignorância, do nada que expandiu sua inteligência desde que começou a amadurecer. E essa gente não sabe que o poder trabalha para fomentar o retrocesso do seu crescimento e de toda a sua descendência, garantia da manutenção de um status quo de regalias para uma pequena parcela e de sofrimento para a maioria.

E a insensatez, de posse do microfone, esbraveja, cercando-se de valentia enquanto a justiça, coitada, carregada de processos, todos recheados de provas contra os marginais de plantão, segue morosa, tão lenta que permite o movimento folgado da gentalha que propaga ameaças a ela e ao bom senso, em tempo integral.

E o ser humano que se cercou de conhecimento e, que, consequentemente, enxerga com nitidez tudo o que ocorre à luz do sol, porque a calada da noite já não é necessária, se aquieta e se retrai. A revolta, pois, com o tempo, deu lugar à tristeza.

Resta, agora, buscar refúgio na literatura e procurar não pensar no que ocorre e ainda poderá ocorrer numa nação de gente míope e desmiolada que aplaude os mentirosos e os opressores, seus algozes de carteirinha.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.com




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;