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A lógica da vida
Rodolfo de Souza
13/03/2025 | 09:53
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Fernandes


O exercício do pensamento, uma das minhas atividades favoritas, com alguma frequência, me leva ao encontro das memórias. É óbvio, admito, contar com a presença das lembranças quando nos entregamos ao pensamento. Isso soa tão lógico quanto uma equação, afinal. falo como se eu entendesse barbaridades do intrincado universo das equações!

De qualquer forma, imagino-as como algo lógico, que pende para o objetivo, nunca ao subjetivo, sobretudo, ao subjetivo profundo das recordações, que constantemente nos remetem à reflexão acerca de acontecimentos que colocam algumas flores nos nossos caminhos, não obstante a quantidade enorme de espinhos que, no trajeto, ferem nossos pés e nossas almas.

E se detenho meu pensamento nos espinhos, a coisa talvez fuja um pouco da lógica. Há lógica, pois, em se encarar com naturalidade a violência generalizada, a desigualdade social, a desonestidade de alguns que tornam tão cara a vida de outros, os golpes de todos os tipos que promovem o prejuízo, a falência e a morte de tanta gente?

É possível, pois, encontrar alguma lógica no sofrimento?

Nada disso é lógico, eu sei. Por que ver com normalidade algo tão ilógico, então, é a questão que me veio bulir com o pensamento, que se encontra um tanto circunspecto neste momento em que deslizo minha pena por esta instigante folha branca.

E que relação tem tudo isso com as memórias, objetos, por vezes nada lógicos? –indagará o atento leitor.

É verdade. Aliás, causa certo alívio saber que podemos fugir dessa lógica enfadonha e desgastante. Para tanto, basta mergulhar de cabeça no subjetivismo da vida e nadar ali de braçadas. Porque, afinal, temos uma mente poderosa, capaz de colocar a existência no centro das atenções e pensar a respeito dela, assim bestamente, quando, por exemplo, o sono nos dá as costas e preenche de vazio a nossa madrugada. E é então que normalmente navegamos pelo passado, lugar onde se escondem as lembranças.

Toda a gente que já percorreu longa estrada tem muito a recordar, rever, questionar posturas e atitudes... lamentar o que se perdeu no caminho, celebrar conquistas ou tentar engolir um punhado de frustrações.

Diga-se de passagem, quando o assunto é o lado subjetivo da existência, a literatura é companheira indispensável, razão pela qual não a deixo. Não que eu pretenda empreender fuga para mundos outros que me façam esquecer deste, repleto de barbáries.

Se bem que há um antídoto do qual me utilizo quando caio na armadilha da realidade: a consciência de que tudo o que ocorre hoje, daqui a pouco estará esquecido no fundo da gaveta do passado. E, no próximo ano, mais desbotado e empoeirado estará. Na década seguinte então…

Mesmo assim, muita coisa há de repousar no berço das recordações, ao passo que outras serão apagadas da nossa memória devido à sua pouca ou nenhuma importância. Convenhamos que até as mais duras tornam-se suaves com o passar do tempo.

Mas há lembranças das quais não poderemos fugir, uma vez que entrarão para os anais como conquistas ou como derrotas, como provedoras da paz ou das atrocidades, como mar calmo ou mar revolto. É isso tudo, afinal, que compõe a história lógica e ilógica de cada um e do mundo.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.

É professor e autor do blog cafeecronicas.com




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