O sol, nesses últimos tempos, parece querer nos abraçar, tal qual um animal grande e desajeitado que nos quer bem, mas que nos afaga a seu modo. Imagina, a estrela, que seu calor exagerado serve para livrar do frio nossos corpos e almas, tornando feliz toda gente.
Não sabe, contudo, da nossa condição humana, frágil situação à mercê dos seus caprichos e das intempéries do mundo. Se bem que, dada a distância e tamanhos desproporcionais, é provável que nem note a nossa presença. Até a Terra, querida e esférica morada, talvez lhe passe despercebida, mesmo bailando ao seu redor por uma infinidade de milênios.
Estrela que é, talvez o Sol esteja mesmo em busca de algum astro do seu quilate para com ele dividir piscadelas em morse, uma forma de comunicação desenvolvida, ao que tudo indica, para a conversa de corpos celestes solitários, separados que são por milhões de anos-luz.
Desconfio até que, nesses tempos de diabruras solares, o Sol possa ter recebido um chamego de longe, talvez um olhar de soslaio de outra estrela lá dos confins do universo.
Um olhar de grande charme e intensidade, quente como o inferno, que botou de quatro o astro-rei. Daí o fato de terem ficado da mesma forma intensos os seus raios.
Mas as pessoas, apaixonadas ou não, sofrem com o calor desmedido.
Tudo culpa do malfadado aquecimento global – é o que falam por aí.
É preciso que se faça algo para deter o sinistro, apregoam os cientistas, para quem a empáfia humana está com os dias contados, caso não se tomem medidas urgentes que cessem o despejo de dióxido de carbono na atmosfera.
Eu, poeta que sou, prefiro acreditar na paixão do Sol, uma vez que paixões vem e vão, e, por isso, devemos cultivar a esperança de que esse calor não anuncie o fim. É possível que o olho solar, em dado momento, comece a sentir cãibras de tanto piscar, e isso lhe cause algum aborrecimento. Então, quem sabe, nosso astro particular esfrie seus ânimos e o diacho do dióxido a mais na atmosfera nem venha a fazer assim tanta diferença. Caso contrário...
Caso contrário o quê? – indagam os senhores da terra, da água e do ar.
Caso ainda não tenha percebido, ó matuto, tudo aqui pertence a quem fora premiado com o dom da riqueza material. Por isso cabe a nós decidir se corremos em socorro da vida na Terra ou se sentamos numa mesa para discutir os rumos da guerra de lá de onde o judas perdeu as botas.
Tomar posse da terra do outro só para transformá-la em resort de luxo, onde o ricaço hospedado poderá, excêntrico que é, sentir o poder dos mísseis que farão aquecer o seu coro, é outra conversa que deve ser pautada com urgência.
Mas é preciso discutir também as taxações exageradas dos produtos comercializados, e assim fazer uma porção de inimigos mundo afora.
Não nos esqueçamos ainda da importância de se dar voz ao fascismo, o que certamente tornará as coisas muito melhores neste planeta que está se transformando, quase que em sua totalidade, no paraíso da estupidez. Solo fértil este de onde brota, aos borbotões, gente avessa à cultura, aos livros, à sabedoria, à evolução de uma forma geral.
Preparemo-nos, pois, o abraço dessa gente, por certo, é ainda mais sufocante e impiedoso do que qualquer ímpeto solar.
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