Era uma vez, num imenso e idolatrado rincão, uma gente simples que nem suspeitava de que um dia seu sossego seria engolido pela tecnologia que, sorrateira, haveria de afastar as pessoas de tudo o que é bom e natural.
Seus filhos se desenvolviam a contento nos estudos, porque seu divertimento se limitava à tímida programação das televisões de então, fascínio de um tempo em que o domínio da tela só engatinhava. E a molecada, durante a folga do dia, ainda se refestelava a seu modo. Gostava sobremaneira de correr pelos terrenos baldios apelidados de “campinho”, templo sagrado da fubeca, do papagaio, do futebol... O espectro do mundo virtual ainda não lhes rondava as mentes, qualquer coisa, mais saudáveis. As imagens repletas de cores, música e conversa fiada dos tempos modernos talvez fossem meros embriões nos bastidores de uma ciência muito distante da imaginação de um povo simples que, embora não soubesse, tinha sua simplicidade como prato predileto dos aliciadores de plantão. Isso porque os meios de comunicação daquele tempo já faziam bem o seu trabalho de conduzir as massas, segundo os interesses de uns poucos.
De qualquer forma, era mais fácil acessar a mente ainda verde para dela extrair o entusiasmo necessário quando o assunto era a busca pelo conhecimento. Logicamente que nem todas eram receptivas, e os professores também sofriam com o descaso por assuntos de cunho intelectual da parcela presente ali somente para o social.
Mas havia nas escolas de outrora um monstro devorador de alunos pouco ou nada afeitos ao aprendizado. Era a reprovação! Isso mesmo, a obrigatoriedade de ter, o vagabundo, de cursar novamente a mesma série no ano seguinte!
E a situação de tornava ainda mais grave pelo fato de terem, os pais daquela época, vergonha na cara, razão pela qual custava-lhes aceitar a ideia de que seu filho perdera um ano inteiro. Era humilhação demais diante dos parentes, sobretudo, dos que tinham crianças ou adolescentes de mesma idade.
E os alunos sabiam que professores não distribuíam notas, que não havia conselho de classe para empurrá-los para a série seguinte e que era preciso se apegar aos livros, aos trabalhos, aos paradidáticos para serem merecedores da aprovação.
Mas aí, em determinado momento da história daquela nação, alguém surgiu com uma ideia que tivera resultado favorável em país nórdico, de outra cultura, de outra educação e de outro tamanho: a famigerada progressão continuada que, para ser sucinto, simplesmente promovia o aluno para a série seguinte, fosse ele bom, mal ou péssimo estudante. Aí o aprendizado desceu ladeira abaixo, e a esculhambação tomou conta do ensino.
O resultado foi o surgimento de gerações de homens e mulheres que se tornaram analfabetos funcionais, pessoas que nunca tocaram num único livro em toda a sua vida. Gente desinformada e burra que se juntou aos seus pares, fizeram filhos e lhes ensinaram o nada que sabiam. E estes foram conduzidos para as masmorras da ignorância, caminho trilhado por papai e mamãe que hoje se orgulham de terem um filho no nono ano, ignorando, toscos que são, o nada que o rebento aprendeu em anos dando trabalho na escola.
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