Amor de alma

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Angelica Kenes Nicoletti

Foto: Andrea Iseki
Victor e Leo completam 20 anos de carreira tentando manter a vida particular afastada da mídia. Foto: Andrea Iseki

A dupla Victor & Leo completa 20 anos em 2012. Às vésperas da comemoração, os irmãos falam sobre a convivência profissional entre eles, que por 15 anos se apresentaram em bares antes do sucesso, hoje medido em discos de Diamante e de Platina, primeiros lugares nas paradas e no carinho dos fãs, que sempre vão aos shows. No Grande ABC, a apresentação mais recente ocorreu no aniversário de Diadema, dia 8 de dezembro.  

Apesar de todo o assédio, a dupla mantém a vida particular afastada da mídia. Leo é casado, pai de dois filhos, e adora andar a cavalo. Victor, solteiro, já teve o nome associado a duas mulheres célebres: Xuxa e Paula Fernandes. No entanto, refere-se a ambas como amigas. Enquanto o imaginário é tomado pela dúvida sobre quem seja a escolhida do cantor, Victor circula anonimamente, e muito bem acompanhado. No mês passado, foi visto em shopping paulistano usando estratégia conhecida das celebridades: assistir às últimas sessões de cinema entrando na sala de exibição após as luzes apagadas e com lugares previamente reservados nas últimas fileiras.

Nesta entrevista, concedida em hotel paulistano por ocasião do lançamento do novo CD, Amor de Alma, os irmãos (batizados Vitor e Leonardo Chaves Zapalá Pimentel) falaram sobre o trabalho musical e como lidam no dia a dia com o fato de serem irmãos e sócios. Embora seja comum ver duplas sertanejas separarem-se de tempos em tempos, eles afastam tal possibilidade.

Em tom de emoção – aliás, marca do repertório sertanejo-folk que apresentam –, eles declaram-se privilegiados por terem um ao outro e revelam que, se por algum motivo não estiverem juntos, não pretendem seguir carreira solo. “A gente já teve essa crise de contestar o motivo de estarmos juntos. Não podemos continuar só porque ‘temos’ de continuar”, afirma Victor.

Sobre a possibilidade de não poderem mais se apresentar como dupla, Leo é enfático:  “Eu pararia na hora”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.


PARCERIA

Victor – Não podermos elevar a condição de irmão a uma obrigação profissional. A gente só canta junto porque quer. Depois que incorporamos  esse pensamento, ficou muito mais confortável. Eu me sinto muito agradecido diante do Leo quando estou no palco e, mesmo concentrado,  tenho sentimento de gratidão por ele existir. É um privilégio que a vida me dá.  Se um dia ele não estiver aqui, por exemplo, se acontecer um acidente fatal, eu não sei se vou continuar a cantar. Preciso estar bem para poder passar algo bom.  Então, acho que pararia mesmo. Não é que dependa, mas eu não vou querer (Leo, sentado ao lado, vira-se e aperta a mão de Victor, que retribui o gesto lacrimejando).

Leo – E eu? Não daria conta de entrar no palco sem você (Victor), de jeito nenhum. Mas não fala muito disso não, senão a gente começa a chorar...


GRATIDÃO

Victor – Às vezes, quando a gente tem uma discussão, falo que ela deveria ser bem menor diante do quão boa é a possibilidade de trabalhar ao lado do irmão e ganhar a vida fazendo algo que amo. Vejo isso como um grande  privilégio. Também tenho a responsabilidade de me sentir grato por isso e de não pensar que a vida vai ser para sempre.

 
RESPONSABILIDADE

Victor – Depois que gravo um CD, tenho que ter sentimento de consciência limpa e de não estar devendo para mim e para nós. Neste disco (Amor de Alma), por exemplo, se aquela nota está mais alta é porque a gente quis assim, e ela está lá. Quanto eu estiver no fim da minha vida, quero olhar para trás e ver que aquilo que fiz  – pelo menos a minha intenção – fez diferença para alguém. Não pode ser apenas por um motivo vago.

 
RELIGIÃO

Leo – A gente não tem religião. Somos espiritualistas e acreditamos no lado bom que cada um tem a oferecer, sem julgar. Acreditamos muito na ação, na autoajuda, na auto-observação. O que você fala, o que você pensa, o que você faz.

 
 

Foto: Andrea Iseki
"Na hora de selecionar um trabalho, quando um não gosta, a gente não grava", destaca Victor. Foto: Andrea Iseki

RELACIONAMENTO

Leo – É o ponto-chave na vida das pessoas. Se você não souber se relacionar bem, não vai bem em lugar nenhum. Nem dentro de casa, com a família, e nem no trabalho.

Victor – E, principalmente, com você mesmo.

Leo – Nós dois estamos sempre juntos e, em situação de escolha, temos que ter isso em mente. Não adianta eu querer mandar nele e ele em mim. O fundamental é respeito. Ninguém muda ninguém. Temos que saber que o problema não está nos outros e sim em nós mesmos.

Victor – O duro é achar que o outro está errado porque não fez a escolha que você faria ou de achar que algo é ruim porque não te agrada. Acho que as pessoas gravitam muito em torno do próprio nariz, do tipo “eu sou f...”. Isso  resulta de um amor-próprio tão pequeno. Tem gente que lida tão mal com si que, no fim de semana, quando não está trabalhando, teme o risco de ficar sozinha. Para a maioria, isso é desesperador. 

 
ESCOLHA

Victor – Na hora de selecionar um trabalho, quando um não gosta, a gente não grava. Os dois têm de aprovar. Imagine: se irmão já briga, sócio então...  De um tempo para cá, a gente começou a respeitar muito essa regra. “Vamos fazer assim? Tô junto”. Se um não quer, não gravamos.



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