De olho nos sentimentos

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Vanda Moura

Educação socioemocional como disciplina escolar pode criar adulto melhor preparado para os desafios da vida.
 
A maneira pela qual a sociedade organiza o conhecimento, os comportamentos e as emoções tem se transformado ao longo dos anos. Isso altera, consecutivamente, as relações sociais. Como um dos principais pilares do desenvolvimento humano, a educação precisa acompanhar essas modificações, abrindo espaço para processos de ensino e aprendizagem que dialoguem com a realidade contemporânea.
 
A pandemia do novo coronavírus e o isolamento provocado por ela colocou ainda mais em evidência a importância de cuidar da saúde mental e emocional desde a infância. Esta é uma forma de criar seres humanos mentalmente saudáveis e com inteligência emocional desenvolvida para enfrentar todos os desafios, angústias e incertezas que aparecem ao longo da vida.
 
Foi preocupada com essa necessidade que a especialista em educação socioemocional Débora Schäffe se tornou uma das responsáveis por trazer para o Brasil o programa Soul, versão do programa educacional Second Step, da ONG norte-americana Committee for Children, referência mundial no conceito de aprendizagem socioemocional, e o Soul Mind, metodologia de ensino de práticas de meditação. E ela defende a obrigatoriedade da disciplina nas escolas. “O grande desafio da educação é inovar suas práticas e apresentar alternativas para que as crianças sejam ambientadas e saibam conviver nesse universo cada vez mais rápido, sensorial e globalizado”, explica.
 
 
Segundo Débora, é importante considerar a criança como um ser que interage e aprende com o meio ao seu redor e que, portanto, é atuante em todo o processo de aprendizagem. Dessa forma, torna-se um diferencial proporcionar ao aluno meios para desenvolver competências e habilidades cognitivas, sociais e emocionais, para além dos conteúdos normalmente exigidos no currículo escolar tradicional.
 
A longo prazo, a especialista explica que focando em bem-estar e felicidade, e considerando o cenário de hoje, quando a segunda maior causa de morte de adolescentes é o suicídio, saber gerir as emoções e cultivar relacionamentos saudáveis se tornam um meio preventivo eficiente.
 
Já no âmbito profissional, desenvolver competências socioemocionais tem um peso importante para o sucesso. “Quando você se torna um líder, precisa saber se relacionar, trabalhar sob pressão, gerir pessoas, entre outros, e tudo isso está relacionado à inteligência emocional”, esclarece.
 
Trazendo este conhecimento para a atualidade, de famílias inteiras confinadas dentro de casa com a pressão e regras estabelecidas pelo isolamento, a mudança drástica de rotina pode ocasionar insegurança, ansiedade, medo e incertezas sobre o futuro. Para ajudar crianças e jovens a lidar com essa nova realidade é preciso ter empatia, resiliência, foco, responsabilidade, cuidado consigo e com o outro, entre outras competências.
 
 
Para isso, Débora propõe ainda a meditação como ferramenta importante para que a criança desenvolva concentração, autoconhecimento, equilíbrio e bem-estar, principalmente neste momento. “Ter intencionalidade para cada uma das práticas faz com que isso se torne aplicável no dia a dia. Os alunos vão poder efetivamente integrar a atenção plena ao seu cotidiano, assumindo uma postura mais presente, focada, consciente e positiva na vida como um todo”, explica.
 
A prática é indicada para crianças a partir dos 4 anos. Os benefícios observados são estudantes mais focados, com qualidade de atenção e de sustentação de foco, que cultivam suas emoções de forma genuína, se preocupam com a felicidade dos outros ao seu redor, além de se tornarem seres humanos mais compreensivos com o mundo e a realidade ao redor, entendendo como a sua percepção afeta a sua experiência de vida.
 
E para pais que se veem tentando equilibrar home schooling, home office, demandas domésticas, entre outros desafios impostos pela pandemia, Débora dá dicas para iniciar a meditação com as crianças. “Fazer uma prática juntos, conversar sobre o que estão sentindo, ter uma escuta ativa e se conectarem com seus filhos são a chave do sucesso desse equilíbrio. Isso irá resultar em relações muito mais saudáveis, pautadas no afeto e exemplo. É claro que no momento em que estamos vivendo nem sempre tudo isso é tão natural, porém entender a importância e colocar isso na rotina já é um grande passo”, finaliza.
 
 



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