O jardim de rosa

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Miriam Gimenes

A andreense Letícia Colin despontou na televisão aos 10 anos, construiu trajetória sólida no cinema, teatro e TV  – no ar como Rosa, de ‘Segundo Sol’ –  e se firma como uma das melhores atrizes de sua geração.

Não há quem não se encante por uma rosa. Dona de beleza ímpar, a flor, que simboliza a perfeição, o amor, alma, a pureza, a sensualidade e o renascimento, é a preferida de dez em cada dez mulheres. E tem um detalhe:  o abrir de seu botão se refere ao segredo e ao mistério da vida. Fácil, portanto, de traçar o paralelo entre ela e a trajetória da atriz andreense Letícia Colin, no ar em Segundo Sol, da Rede Globo. Não apenas porque a sua personagem recebe o mesmo nome, mas também por conta da forma como ela apareceu pela primeira vez na TV – aos 10 anos, no seriado Sandy& Júnior – e desabrochou ao longo de seus trabalhos, que tem seu auge agora, no papel em questão, criado pelo autor João Emanuel Carneiro.  

A atriz, 28 anos, no entanto, não gosta de colocar esta como a personagem de sua vida, embora tenha muito carinho pelo papel atual. “Não acredito que um trabalho muda a vida (de um profissional). É uma caminhada, uma construção mais vertical. O que vai acontecendo são ramificações, trajetórias que vão se encaminhando”, acredita. 

Para encarar este desafio, completa, seguiu o roteiro de todo papel que conquista para si: estudou bastante, foi à Bahia – lugar onde Rosa nasceu e vive –, se aprofundou sobre Salvador, ouviu artistas baianos e contou com a ajuda de toda equipe, de modo que conseguisse construí-la ao longo dos capítulos. “(A personagem) é um caldeirão que você vai alimentando, ao longo da novela vai conhecendo. Ela é viva, é como a vida. Você sabe quem você é até o ponto em que a vida te coloca em determinada situação. Foi o que aconteceu com ela”, analisa. Na trama, que já está em seus capítulos finais, Rosa começou como uma ‘garota de família’, personagem coadjuvante, e ganhou proporções de destaque ao se aliar às duas antagonistas da trama, Laureta (Adriana Esteves) e Karola (Deborah Secco) para conseguir mais renda.

 

Ainda no início da história, ela começou a se prostituir, e, ao ser descoberta pelo pai, o machista Agenor (Roberto Bonfim), ela foi expulsa de casa. “A Rosa é uma mulher muito livre, feminista e livre sexualmente, que diz as verdades que incomodam e quer que as pessoas sejam felizes como que elas queiram. Mas, que por própria escolha foi parar em um ambiente de tramas e armações, maldades, e ela se colocou em uma sinuca, que coloca em xeque sua própria liberdade. Ela mente, tem de enganar quem gosta, não está livre para viver o amor dela inteiramente, porque tem monte de esqueletos no armário. Entrou ali por sede de dinheiro, mas perdeu o que era mais valioso. Vamos ver onde vai dar.”

É por isso que, ao ser parada nas ruas pelos telespectadores, tem sentido que o público não aprova a conduta de Rosa e quer que ela se redima até o fim do folhetim. “Ela tem de contar tudo que sabe, acalmar e transformar esse desejo maluco que tem por dinheiro, que no início era um discurso de sobrevivência. Agora ela nem precisaria de tanto dinheiro, mas a pessoa vai se viciando, querendo mais e mais. Eu quero que ela seja feliz, mas tem de se dar conta que fez errado. Existem outras maneiras de sobreviver”, analisa. Para ela, Rosa propõe um olhar diferente, e mais honesto, sobre sexualidade, prostituição e feminismo.  

E foi ela também a responsável por perder o sotaque austríaco adquirido em sua última personagem, a Imperatriz Leopoldina, de Novo Mundo, televisionada ano passado. “Acredito que  o personagem escolhe a gente, como foi a Leopoldina. Fui fazer o teste determinada a descobrir ela, para que fosse desejado que eu fizesse esse papel”, lembra. 

Ao lado de Caio Castro, que na trama interpretou Dom Pedro I, ela se mostrou mais, ganhou segurança e se preparou para o papel que estava por vir. Tanto que conquistou mais simpatia do público que a própria mocinha da história, a Anna (Isabelle Drummond). Além de tudo isso, a imperatriz lhe ensinou muito não só sobre a força que teve na história, e foi, sem dúvida, um divisor de águas na sua carreira. 

Antes dos dois papéis já referidos, Letícia também fez Malhação, TV Globinho, Floribella (Band), Luz do Sol, Chamas da Vida e A História de Ester (as três na Record), Mandrake (HBO), Questão de Família e Amor Veríssimo (GNT) e, de volta à Globo, Sete Vidas, A Regra do Jogo, Chapa Quente e Nada Será Como Antes.  

Todas essas personagens, desde a primeira, acrescenta, a ensinaram a aprender a lidar com a fama, algo tranquilo para ela, e a aprender vários ‘nãos’ na vida antes de um ‘sim’. “Desde cedo aprendemos a lidar com frustrações neste trabalho. Fazemos muitos testes e, às vezes,  não estamos prontas para o papel, ou não estamos em um bom dia, dependemos sempre de variáveis. A  gente vive essas desilusões, mas com leveza. Fui aprendendo a entender o que era meu, até onde podia ir, acho que desde muito cedo”, lembra. 

As coisas foram acontecendo naturalmente. “Eu não tinha ambição, comecei a trabalhar pequena, adorava decorar cena, adorava ter um personagem para pensar sobre, vestir uma roupa diferente, falar uma coisa que eu jamais diria. A vida foi me levando, as possibilidades foram me deixando cada vez mais dentro dessa profissão.” Nunca, acrescenta, se viu em uma situação que a deixasse assustada. “A minha carreira foi sendo construída de jeito sereno, trabalho há 20 anos e é uma caminhada longa e muito consciente, foi muito tranquilo, não foi de repente, do dia para a noite. Fui  incorporando essa relação com as pessoas em ser reconhecida de um jeito natural e orgânico.” Seu lema é sempre manter o pé no chão, literalmente, em qualquer situação.

Em casa

Letícia Helena de Queiroz Colin nasceu em dezembro de 1989 no Hospital Brasil, em Santo André. Foi na cidade onde viveu até os 9 anos de idade, quando teve de mudar para Campinas para gravar o seriado da Sandy e do Júnior. “Meus pais são professores e trabalhavam muito entre São Bernardo e Santo André. Eu morava na Bela Vista e estudava no Colégio Gradual (ficava no Centro de Santo André). Amava minha escola desde pequena e me lembro muito do professor Mergulhão, dono da escola e amigo dos meus pais, além da Tia Chica, que ficava com a gente na chegada da escola e na hora do intervalo”, lembra, saudosa. 

É desta época que guarda as melhores memórias e também grandes amigos, alguns mantidos até hoje. “Me lembro do Shopping ABC, da Prefeitura, que tinha uma praça que a gente ia quando tinha eventos, para andar de bicicleta. Fazia basquete na escolinha da Janete, era uma delícia.”  Por conta de morar no Rio de Janeiro, e também pelo fato de os pais, quando se aposentaram, terem mudado para São Carlos, poucas são as vezes, portanto, em que volta à região. Quando vem é para visitar parentes, a maioria com residência em São Bernardo. 

Letícia morou também bastante tempo em São Carlos, na casa dos pais. “É a cidade que tem o céu mais lindo do mundo, um calor que eu amo, tem cheiro de mato, frutas no pomar. A gente (ela e os primos) brincava muito correndo entre as chácaras dos meus tios. Aquele lugar é uma profusão de sensações.” Foram os pais, acrescenta, essenciais para que ela construísse, tijolo a tijolo, a carreira que continua desenhando hoje. “Tive uma sorte imensa. Fui ser atriz desde tão cedo com tanta entrega e intensidade muito por causa deles, que estavam me amparando. Eles torcem por mim, minha mãe mudou a vida para poder vir para o Rio comigo. Quando saímos de Santo André ela trabalhava no Galeão Carvalhal (escola) e mudou de vida. A família toda bancou a onda de viver esse sonho para ver no que ia dar.” Com certeza eles não se arrependeram, nem por um minuto. 

A construção de uma carreira/história, para que a verticalização seja efetiva,  demanda dedicação, trabalho e muito amor que, pelo visto não falta nesta família.

 



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