Ela é pura poesia

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Marcela Munhoz

Marina Ruy Barbosa sempre disse que atuar era tudo o que queria na vida, então, missão cumprida; porém, fez mais: se aventurou no mundo dos versos

A vida é uma eterna inspiração. Basta estar atento, observar e abrir o coração para sentir. Geralmente, o artista é instigado e treinado desde criança a entender e absorver a essência das pessoas, reparar nas nuances das coisas, mesmo porque precisa desse material para transformar os personagens em seres completos, vivos. Aos 22 anos, sendo 14 treinando essas habilidades para mostrá-las a milhões de pessoas por meio de uma tela, Marina Ruy Barbosa sabe muito bem aproveitar a inspiração para tonalizar cada projeto com uma cor diferente, própria, ruiva, de preferência. É assim agora com Amália, em Deus Salve o Rei, novela das 19h, e foi assim desde sempre.

Quando, aos 10, deu entrevista para esta jornalista que vos escreve ao Diarinho, suplemento infantil do Diário do Grande ABC, já era fácil notar que ela colocava boas doses de amor no que fazia. Á época, estava encantada com a Grécia, locação para sua terceira novela na Rede Globo, Belíssima (2005), em que atuou com Tony Ramos, Lima Duarte, Cláudia Abreu e Fernanda Montenegro, de quem ganhou um presente, devidamente emoldurado e colocado em seu quarto. Era uma de suas primeiras viagens internacionais e confessa que ficou muito tensa nos teste, fez até xixi na cama na noite anterior. Reação normal de criança.

Encontrada no teatro por uma diretora da emissora, especialmente por causa do cabelo ruivo – o que na escola, já foi motivo de muito bullying contra Marina, acredite, ela dizia para a mãe que quando crescesse ia pintar o cabelo de loiro – a atriz estreou nas telinhas em Sabor da Paixão (2002), como Marie. A segunda novela foi Começar de Novo (2004), em que interpretava uma anja. “Ela não se comunicava com palavras, era só pelo olhar”, relembra. Tudo isso antes da primeira década de vida. Marina também tem no currículo temporada como apresentadora da TV Globinho, participou do quadro de dança no Faustão, de culinária na Ana Maria Braga, mas a dramaturgia é sua verdadeira paixão, como sempre deixou claro. Aos 13 anos, fez 7 – O Musical, quando teve aulas de canto e de piano, e, em 2007, esteve no elenco de Sete Pecados.

Em Escrito nas Estrelas (2010), foi Vanessa, que trouxe a Marina a chance do primeiro par romântico na televisão, com o ator Bruno Pereira, o Mauro. Na trama, ela era adolescente rebelde, que vivia discutindo com a mãe. Algo completamente oposto ao que acontece nos bastidores. Por ter começado muito cedo na profissão, a mãe, Gioconda, sempre acompanhou a única filha em tudo. “Até os 17 anos e meio, quando ela disse: ‘Vá, minha filha’. Ela é e sempre será minha melhor amiga”, conta. Para Marina, família é prioridade. Recém-casada com Alexandre Negrão, piloto da Stock Car, diz que sonha também ser mãe. E não deve demorar.

Para os fãs que acompanharam Marina, literalmente crescer nas telinhas, cada postagem nas redes sociais rende assunto. Embora afirme não se incomodar com o assédio – “faz parte da profissão que escolhi” –, deixa claro que não gosta quando inventam mentiras a seu respeito. “As pessoas acham que sabem, mas não sabem tudo de mim. Conhecem apenas uma parte.” Uma das ‘partes’ que Marina faz questão de mostrar tem a ver com moda. Em 2016, ela conheceu a Paris Fashion Week. “Foi muito enriquecedor. Aprendi sobre a indústria, sobre o mercado. Ver aqueles criadores de perto, entender como tudo funciona, o quanto que eles geram de renda e emprego. É mágico ter a oportunidade de conhecer os bastidores e desfilar em uma passarela internacional, isso com 1,67 m de altura.” Este ano foi coroada rainha do tradicional Baile da Vogue. “É algo que nunca fiz e adoro ser desafiada, provocada.”

Alice, a ‘quase vilã’, de Morde & Assopra (2011), foi baita desafio para Marina. Ela acredita que com a personagem as pessoas passaram a respeitá-la mais como atriz e a cobrá-la também. Na sequência vieram Amor Eterno Amor (2012) e Amor à Vida (2013), em que a atriz optou por não cortar o cabelo para viver Nicole. Foi uma polêmica na época. Em 2014, chamou atenção por outro motivo: a sensualidade da personagem Maria Ísis, em Império. Viveu cenas quentes ao lado do ator Alexandre Nero. O protagonismo veio em 2015, com a série Amorteamo. Malvina foi inspirada em A Noiva Cadáver, de Tim Burton. No mesmo ano, deu vida a Eliza, de Totalmente Demais, sucesso de audiência para o horário das 19h. Fez também participação da série Justiça (2016).

Ao lado da amiga de infância Bruna Marquezine – com quem estudou na escola, inclusive –, Marina Ruy Barbosa está no ar em Deus Salve o Rei, como Amália. A camponesa que vive paixão por príncipe é a inspiração do momento para a atriz. “É uma personagem forte, cheia de atitude e amor pelo seu universo”. Para fazer a novela, Marina teve aulas de luta com espada, dança medieval, além de aprender “muita coisa sobre o universo da Amália, entendendo sua força e retidão”, conta.

E quem ficou com vontade de ver a atriz também nos cinemas terá duas chances em breve. Ela é a protagonista de Sequestro Relâmpago, de Tatá Amaral – longa baseado em fatos reais e que foi todo gravado em São Paulo. Vive Isabel, sequestrada após sair de bar. “Confesso que deu um friozinho na barriga”, diz. Em Todas as Canções de Amor, de Joana Mariani, faz par romântico com Bruno Gagliasso. “O filme é uma poesia, gracioso demais.”

E OS VERSOS?

Com todos esses trabalhos na bagagem, Marina Ruy Barbosa é inspiração para muita gente – quase 23 milhões só no Instagram. Tanto que foi convidada, por dois anos, a reunir as poesias e poetas favoritos em um livro, lançado no fim de 2017. Em Inspirações – Uma Seleção Afetiva De Reflexões e Poemas (Objetiva, 168 págs., R$ 49,90, em média), tem texto de Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hilst, Manoel de Barros, Mario Quintana, Paulo Leminski e Vinicius de Moraes, além dos contemporâneos Alice Santana, Ana Martins Marques, Eucanaã Ferraz e Angélica Freitas. Sim, tem reflexões da própria atriz.

A ideia era incentivar a leitura. “Quero que todos que me acompanham partilhem da mesma felicidade que tenho quando leio uma boa história ou me emociono com um poema. Leiam sempre! É divertido, prazeroso e enriquecedor. Peguei o gosto pela leitura porque meus pais e minha escola mostraram como era divertido e importante ler. São os livros que despertam nossa imaginação, que nos dão coragem de sonhar, que nos fazem viajar sem sair do lugar”, justifica a atriz, que tem DNA poderoso. Ela é tataraneta do Águia de Haia, escritor, jurista e político baiano Ruy Barbosa (1849-1923). Ele deixou na história frases e pensamentos marcantes, como “Maior do que a tristeza de não haver vencido, é a vergonha de não ter lutado”. E Marina nunca deixou de lutar, agora com espada medieval, pelos seus sonhos. O tataravô deve estar orgulhoso.

 




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