Na onda do turismo LGBT

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Karine Manchini

Com muita luta a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) está conquistando cada vez mais espaço em um mundo onde a intolerância e o preconceito prevalecem. E isso também vale quando o assunto é turismo. O que pode parecer comum para um viajante, como andar de mãos dadas nas ruas, por exemplo, não o é para esse público.

Mas grande movimento está agitando a área já há algum tempo e, por causa dele, também é possível enxergar mudanças. Os dados falam por si. Segundo o Ministério do Turismo e a OMT (Organização Mundial de Turismo), o segmento LGBT representa cerca de 10% dos viajantes no mundo e movimenta 15% do faturamento do setor.

Para Rafael Leick, 31 anos, publicitário e diretor de turismo da Câmara de Comércio LGBT Brasileira, o crescimento tem como motivos dois fatores: a aceitação que está existindo ao se falar sobre o assunto em público e o interesse das empresas em promover a diversidade e lucrar. “Existem estereótipos, que, em parte, são verdade. Muitos gays não têm filhos, então acabam tendo mais dinheiro para gastar. É um público que gosta muito de viajar. O mercado de turismo LGBT cresce proporcionalmente mais do que o convencional”, analisa.

Leick, porém, ainda sente falta de representatividade e meios para informar o público LGBT sobre destinos de viagens, festas e festivais. Por isso, decidiu criar o blog Viaja Bi! (viajabi.com.br) em 2014 com a intenção de informar os leitores. Além de contar com seu canal no YouTube (Viaja Bi!), que também trata do assunto.

Além de os próprios destinos oferecerem condições especiais e bem atrativas – como resorts, cruzeiros e pacotes específicos, por exemplo – existe, no Brasi, até cartilha criada pelo Ministério do Turismo em parceria com o Ministério da Justiça em 2016. A intenção é promover a inclusão e priorizar o bom atendimento.

De mãos dadas pelo mundo

Preparar as malas e seguir rumo ao destino desejado é muito bom, melhor ainda quando a viagem é feita ao lado de um grande amor. Fabia Cristina Sartori Fuzeti, 41 anos, jornalista de Santo André, gosta de dar voltas pelo mundo desde 1997 e encontrou uma parceira para viagens e para a vida: Gabriela Torezani, 25, de São Paulo.

Casadas desde outubro de 2014, se conheceram no trabalho, viraram amigas, se apaixonaram e embarcaram juntas em uma aventura por Londres. Decidiram compartilhar suas experiências e criaram o blog Estrangeira (www.estrangeira.com.br), em que relatam seus roteiros e dão dicas para quem quer embarcar em destinos LGBT- Friendly. “A princípio decidimos criar o blog para guardar registro das nossas viagens em texto, imagens e vídeos. Fabia sempre tirou muitas fotos, mas os amigos pediam para ver e ler as aventuras. Depois de fazer nossa primeira viagem juntas e ir para o Egito em janeiro, resolvemos montar o blog. Ao longo dos meses fomos profissionalizando o Estrangeira”, conta Gabriela.

Gostando cada vez mais da companhia uma da outra, decidiram partir para um mochilão na América do Sul em novembro de 2016, onde ficaram 45 dias e passaram por Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia e Peru. Na viagem queriam algo mais do que apenas passear e conhecer novos ares. O casal, que é ativista, pretendia investigar a realidade LGBT e entender como os viajantes são recebidos em cada um dos destinos visitados. “No Uruguai, pudemos ter um panorama geral. Conhecemos várias empresas com políticas de inclusão e diversidade. A lei ampara casamento homoafetivo, mudança de nome social, garantia ao respeito da identidade de gênero, adoção por casais homossexuais e outras políticas importantes. Em Buenos Aires também exploramos bastante a cena LGBT, que já está consolidada e lá existem hotéis exclusivos. No Chile e Peru as legislações ainda estão caminhando, mas em ambos existem ativistas e associações muito importantes que estão fazendo um trabalho legal”, explica Fabia.

Fabia e Gabriela moram atualmente na Espanha e já passaram por mais de 30 países. Guardam experiências e histórias de cada um e não pretendem parar de viajar tão cedo. “A lista de destinos não para de crescer. Por enquanto temos planejado Paris em novembro e o Ano-Novo em Londres. Outras duas viagens que queremos muito fazer são México e Sudeste Asiático”, finaliza Fabia.

“Foi preciso muito esforço para não beijar e abraçar”

Com a curiosidade de conhecer o Egito e seus monumentos históricos, Fabia e Gabriela decidiram embarcar para o país em janeiro deste ano. Em um local onde pessoas podem ser presas por serem homossexuais, as blogueiras não tiveram escolha: precisaram esconder que eram um casal.

“Foi bem tenso, porque nós somos muito ‘fora do armário’ e foi preciso esforço enorme para não andar de mãos dadas, não beijar e abraçar em público. Decidimos não nos expor por medo mesmo. Então, nos hotéis, reservamos os quartos com duas camas de solteiro, que juntávamos à noite. Para as pessoas que perguntavam, dizíamos que éramos irmãs ou primas. É muito chato, porque não podíamos comemorar com afeto a viagem”, explica Gabriela.

Para alertar viajantes LGBTs que pretendem ir ao Egito e não passar apuros, o casal fez um vídeo e postou no blog contando a experiência.




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