Um presente de Cauby

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Vinícius Castelli

 Cauby Peixoto partiu há pouco mais de um ano. Mas sua voz, que por décadas adoçou os ouvidos de tanta gente, segue viva em vários discos gravados ao longo dos anos. Para quem sente falta do cantor, há boa notícia: ele deixou uma herança. Pouco antes de morrer, dois meses, para ser exato, ele foi a um estúdio registrar canções que marcaram sua vida. As músicas de Dick Farney (1921-1987), aquelas que Cauby começou a carreira cantando, estão agora registradas no disco Cauby Canta Dick Farney (Biscoito Fino, R$ 29,90, em média), que acaba de chegar às lojas.

Cauby estava com 85 anos quando gravou dez canções conhecidas pela voz de Farney. Entre as interpretações estão Meu Rio de Janeiro, que abre a obra, a belíssima Não Tem Solução, que narra drama de um amor quase que impossível, o samba-canção Somos Dois e Tenderly, por exemplo. Outra que não fica de fora é Uma Loira, sucesso de Farney no início dos anos 1950.

Tudo é elegante, como sempre, quando se trata de Cauby. Uma volta no tempo, ou melhor, resgate de músicas que não se fazem mais hoje em dia. A obra tem produção assinada por Thiago Marques Luiz, que cuidou da vida musical do artista em seus últimos dez anos. Ele, aliás, é o responsável por essas canções ganharem vida agora. “Foi uma vontade dele, de fazer esse registro”, diz o produtor, que conta que Cauby gravou as músicas para estarem de fato em um disco. Segundo o produtor, a ideia de registrar essas faixas surgiu em viagem de avião para o Rio de Janeiro, para um show que o artista tinha na agenda.

Luiz conta que Cauby gravou tudo em uma única tarde. “As músicas estavam todas ensaiadas, ele já tinha as apresentado e apresentava total intimidade com elas”, explica. “A escolha do repertório foi a partir das memórias dele. Quando começou a carreira, eram essas músicas que cantava”, diz. Apesar do estado de saúde debilitado, à época, Cauby ainda estava com a voz forte, brilhante. E isso fica claro na audição do disco.

Depois de gravar, saiu em turnê. “Ele nunca ouviu esses registros, não deu tempo”, afirma. Para o produtor, essa obra é um encerramento com muita categoria. “É curioso pensar que ele terminou a carreira cantando as músicos do início dela. Cauby foi uma pessoa muito especial. Apesar da vaidade com a voz, era um homem simples, humilde e respeitoso. Trabalhar com ele foi uma experiência para a vida toda. Só agradeço”, encerra.




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