Um teatro e quase mais nada

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Vinícius Castelli

 A boca de cena, ainda original, guarda diversas histórias. Ela já serviu como parte do cenário, em 1946, para o tenor italiano Tito Schipa (1888-1965), entre tantos outros nomes, como Hebe Camargo, por exemplo. A madeira do telhado e a parede esquerda também são originais. Fato é que, um dos locais mais queridos e importantes da região quando se fala em arte, o Cine Teatro Carlos Gomes, em Santo André, localizado no Centro da cidade, espera há tempos por um sopro de vida.

Criado em 1912, se situava em outro local da cidade. Mudou-se para o prédio onde segue até hoje em 1925. Sua primeira reforma foi em 1947, para se adequar às regras das salas de cinema da época. Fechado pela Defesa Civil em 2008, o local ainda guarda nostalgia e esperança, apesar do péssimo estado de conservação em que se encontra.

Em visita ao espaço, o Diário encontrou um grande galpão vazio. Não existem palco e cadeiras. Não há quase nada, além de paredes descascando e outras com tijolos visíveis. A fachada original do prédio, com toques arquitetônicos neoclássicos, também ficou para a história. Nos fundos, o anexo está muito maltratado. Ainda assim, e apesar de tudo, quando se está dentro dele, o Cine Teatro Carlos Gomes promove ar de grandiosidade. Definitivamente merece nova chance.

O espaço passou por tentativa frustrada de restauro durante a gestão de Aidan Ravin (PSB). O ex-prefeito Carlos Grana (PT) também procurou andar com o plano de dar, novamente, vida ao local. Até apresentou projeto arquitetônico e deu início aos trâmites. Fato é que agora o Paço segue com o trabalho e tenta resolver o que é necessário. “É um trabalho que já estava sendo feito e estamos dando continuidade”, explica Simone Zárate, secretária de Cultura do município.

Para fazer com que esse sonho ganhe vida serão necessários, segundo a prefeitura, entre R$ 20 e R$ 25 milhões. “É quase uma reconstrução, mas com cuidados de um restauro”, diz Simone. A verba pode ser tanto de leis de incentivo, o que o Paço já tenta, como também de iniciativas privadas.

Será necessário fazer parte elétrica, hidráulica e colocar todos os equipamentos necessários para que funcione como um teatro de novo. Na verdade, o projeto pretende transformar o local em sala multiuso. Camarins, hoje inexistentes, também precisarão ser construídos. “Terão área para exposições, café, hall de entrada e bilheteria, além de sanitários na área lateral”, explica Simone.

O projeto preserva partes originais e faz intervenções no restante do edifício. Segundo Marco Moretto, diretor de planejamento e projetos especiais da secretaria, a fachada deve ser diferente da original. “Se recompor a fachada como era antigamente, cria-se ‘falso histórico’. Isso (fazer diferente) é recomendado pelas Cartas Patrimoniais para não criar ilusão para quem vê aquele bem”, explica.

Segundo Simone, os encaminhamentos estão em andamento. “Tem de passar o projeto pelo Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André). O órgão sugeriu audiência com a sociedade civil, para ver se o projeto corresponde às diretrizes.

Para a secretária, se as obras começarem nessa gestão, mesmo que não termine nos quatro anos de governo, já será um grande avanço. “É importante ter de volta o Carlos Gomes, até mesmo pelo valor afetivo. Gostaria que viesse alguma pessoa e dissesse: ‘Eu pago’”, brinca a Simone, que sonha ver o local ativo novamente.

O Diário faz série de reportagens para avaliar os teatros da região




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