Maestro: nosso ilustre convidado

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Marcela Munhoz

 “Um músico. Peço que adotem apenas um músico dos 65 da orquestra”, implorou João Carlos Martins a um representante de conhecida federação de São Paulo. Dias depois e nada de resposta. Até que ele foi chamado para reunião. “Desculpe, não podemos participar do projeto desta maneira”. Visivelmente chateado, o artista nem teve tempo de lamentar. O responsável pela Fiesp/Sesi-SP logo emendou: “Não vamos adotar apenas um músico, mas todos eles”.

O maestro não conseguiu segurar as lágrimas e, desde 2006, vem fazendo trabalho ímpar com crianças, adolescentes e jovens na Bachiana Filarmônica. “Pelas minhas contas já trouxemos mais de 10 mil para o mundo da música. São cerca de 200 concertos por ano, uma loucura”, contou à equipe de reportagem do Diário, após sessão de sua cinebiografia, João, o Maestro, a estrear em 17 de agosto nas telona. A cena relatada, inclusive, faz parte da obra cinematográfica.

É nada menos do que esse maestro à frente dessa orquestra que Ribeirão Pires escolheu para abrir a 11ª edição do Festival do Chocolate. O evento acontece hoje, a partir das 19h, na Vila do Doce (Rua Boa Vista). A entrada é gratuita. “Não conheço a festa, mas estou ansioso”, disse.

No repertório da apresentação estão composições clássicas de Beethoven, Bach e Mozart, canções marcantes de grupos como The Beatles e Queen, e dos compositores brasileiros Adoniran Barbosa e Heitor Villa Lobos, para quem, aliás, Martins tocou quando ainda era jovem. Segundo o artista, é Villa Lobos o autor de uma das frases que regem a sua vida: “Não é um público inculto que vai julgar as artes, são as artes que mostram a cultura de um povo”.

E quem acha que já basta de tanta emoção, vai ter a chance de ver o artista ao piano. Seu ‘retorno’ aconteceu no começo do ano, após mais uma cirurgia na mão. Sobre os inúmeros obstáculos de vida – todos contados no filme – João Carlos Martins sempre se mostrou otimista e os tratou com bom humor. Quando mais uma vez foi questionado sobre ser exemplo de superação, ele foi direto: “Meus problemas são muito menores do que quem ficou tetraplégico ou perdeu a visão, por exemplo. Sou apenas um pianista que não pode mais tocar como antigamente.”

Embora seja modesto, o maestro está, sim, mudando a vida de muita gente. em especial, de Davi Campolongo, 10. O ator interpreta o músico criança no filme. Por causa do projeto, ele intensificou os estudos de piano e já tocou ao lado do seu ídolo, que o classificou como a ‘nova promessa brasileira’. “A música salvou a vida dele, é emocionante, Estou realizado por participar disso”, resume Davi.

SOBRE O FESTIVAL
Apesar de hoje ser a abertura do Festival do Chocolate, o evento vai acontecer para valer nos dias 28 e 30, e 4 e 6 de agosto, no Complexo Ayrton Senna (Av. Prefeito Valdírio Prisco, 193). Fazem parte do Lineup Inimigos da HP (28), Ultraje a Rigor (29), Titãs (30), Rionegro & Solimões (4), Ira! (5) e Guilherme e Santiago (6). Os ingressos serão disponibilizados mediante troca por alimentos não perecíveis em vários pontos na cidade. Saiba mais no Facebook (FestivaldoChocolate).

 

Impressionante trajetória do músico chega às telonas
Aos 77 anos, João Carlos Martins é a prova de que não desistir e ser movido pela paixão é recompensador. A história contada em João, o Maestro, de Mauro Lima – que vai abrir o Festival de Cinema de Gramado e que chega ao circuito em 17 de agosto –, começa com um João de 8 anos, doentinho, tímido, que ‘incrementa’ seu mundo com o piano. Estímulo do pai português. Logo, aprendeu o legado de Bach e, aos 20, estreou no Carnegie Hall, em Nova York. Brilhou e impressionou o mundo por aceitar tocar dificílimas obras.

Martins rompeu um nervo que tirou parte do movimento da mão direita após se meter a treinar junto ao time da Portuguesa; tocou com dedeiras de aço até sangrar; desistiu do piano; foi empresário de Eder Jofre, que o estimulou a tentar de novo; desenvolveu distúrbios osteomusculares; teve lesão cerebral após ser assaltado e agredido na Bulgária; aprendeu tudo com a mão esquerda, até que um tumor o impediu novamente; virou regente. Isso só para citar alguns episódios retratados no longa.

Segundo Martins, a parte musical é 100% verdade, mas o restante – “inclusive os episódios picantes” – é fruto da criatividade do diretor. Há controvérsias. “É tudo tão surreal, que nem os maiores roteiristas a escreveriam. O diferencial é que o João não faz drama. Ele se reinventou sempre com bom humor. O Brasil tem poucos heróis e ele precisa ser reconhecido, em vida. Estou feliz por isso”, conta a produtora do filme, Paula Barreto.




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