Cartas para Julieta

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Soraia Abreu Pedrozo

Não foi à toa que ainda no século 16 o escritor britânico William Shakespeare elegeu Verona, no Vêneto, como um de seus destinos prediletos para escrever livros que se tornariam clássicos, resistindo ao tempo e emocionando tanta gente. A cidade palco do romance de Romeu e Julieta é apaixonante. E o melhor, o turismo de massa ainda não o invadiu, apesar da fama mundo afora devido a essa trágica história de amor.

Embora o único fato comprovado tenha sido a existência das famílias arquirrivais Montecchio e Capuleto, a paixão impossível não passa de lenda. Mesmo assim, a cidade se projetou em cima dela. É muito saboroso percorrer as lindas ruelas do centro histórico para conhecer lugares onde o conto é ambientado.

Quem assistiu ao filme Cartas para Julieta, de Gary Winick, irá se deliciar ao pôr os pés no local em que são colocados bilhetes de meninas de diversas partes do mundo com pedidos de ajuda a Julieta, para a realização de amores tão impossíveis quanto o dela. Para atrair o amor eterno, foto que não pode faltar tem a mão esquerda no seio direito da escultura de bronze em sua homenagem. Outra tradição é colocar cadeado na grade com os nomes dos enamorados. A visita ao pátio interno é grátis, mas para conhecer sua linda casa e subir na sacada são cobrados quatro euros.

A agradabilíssima Verona surpreende a cada esquina. A Arena é soberana na bela Piazza Bra. A Piazza delle Erbe tem diversas barracas tanto de comida quanto de souvernir. É gostoso achar uma sombra para sentar, comer tiras de muçarela à milanesa e ver os veroneses passar, elegantes, mesmo sob o sol forte. O Rio Adige, que corta a cidade, propicia paisagens inspiradoras, ainda mais próximo ao Castel Vecchio. É destino para passar pelo menos dois dias e tirar o pé do acelerador da maratona turística. 

Comer bem poderia ser sinônimo de ‘País da Bota’

Pai de uma culinária que agrada a qualquer tipo de paladar, o País da Bota é sonho de consumo de muita gente que, além de respirar tanta história, ainda se alimenta como nunca. Comer bem, aliás, poderia ser sinônimo de Itália.

O único senão é que é um pouco caro comer por lá. No entanto, praticamente em qualquer lugar que se senta para fazer uma refeição, se sai ‘lambendo os beiços’. Tudo é muito fresco, e nem a massa nem a pizza pesam no estômago ou dão queimação. Alguns dos pratos memoráveis são a entrada de flor de abobrinha frita, o apimentado pici (um espaguete grosso típico da Toscana) cacio e pepe, o nhoque com pera e nozes, o taglarini na cesta de queijo com molho branco de azeite trufado, o spaguetti negro com frutos do mar e as pizzas de alcachofra.

Para acompanhar, a taça de vinho é tão incorporada ao menu que custa em média cinco euros, enquanto que um refrigerante sai a sete euros. E a água é cortesia da casa. 

Supermercados como a Coop e o Conad são como um shopping center para amantes de azeites, como trufado e de alecrim, de espirrar, queijos, como pecorino do leite de ovelha, e os vinhos Chianti clássico, Rosso e Nobile de Montalcino e o Valpolicella – com excelentes custos-benefícios.

Alerta de spoiler: toda regra tem uma exceção, e uma comida de rua tradicional por lá, o sanduíche de Lampredotto, feito do estômago do boi, é só para os fortes. Muito fortes. 

Democrática, Florença é museu a céu aberto

Berço da Renascença, Florença é um museu a céu aberto. E repleta de cenários que favorecem experiências que ficam na retina para todo sempre. E sem pagar nada por isso.Explorar a cidade a pé é o melhor jeito de descobrir ângulos que inspiram. Sem contar que tem o pôr do Sol mais famoso do mundo no Rio Arno. O ideal é ficar pelo menos quatro dias para absorver um pouco da infinidade de opções que essa cidade ocre tem a oferecer. 

Ao colocar as malas no hotel, o desejo imediato é conhecer seu maior cartão-postal, a Ponte Vecchio. Repleta de joalherias, liga a parte mais turística da mais residencial e não tem vista. Para admirá-la, o ideal é ir até a Ponte Santa Trinitá – que tem o pôr do Sol mais bonito da vida, ainda mais acompanhado de uma garrafa de Chianti Clássico comprado no supermercado – ou à Ponte Alle Grazie. Dali, o próximo passo é atravessar a Galleria degli Uffizi, onde há homenagem a Maquiavel, e chegar à singular Piazza Della Signoria. O quadrilátero é repleto de esculturas enormes e diversas, que hipnotizam. Ali está a cópia fiel de Davi de Michelangelo – versão que pode bastar a quem não quiser conferir a original da Galeria Della Academia. À noite vale muito a pena voltar ao local, onde está também o Palazzo Vechio, que ganha charme extra todo iluminado.

Saindo dali, se tem a Via dei Calzaiuoli. Ali e nos arredores há ruazinhas deliciosas para bater perna, com fast-fashions H&M, Pandora, Zara e Tezenis (underwear italiana com preços ótimos). O caminho desemboca na belíssima Piazza Della Republica com seus clássicos carrossel e portal, onde se passam cenas de Inferno, terceiro capítulo da trilogia de Dan Brown para o cinema. Quem quiser subir ao rooftop da multimarcas Coin para admirar a vista, não paga nada por isso. Dali é hora de seguir para outro cartão-postal, a imponente Catedral de Santa Maria del Fiore, na Piazza del Duomo. Se não tiver pique para encarar as filas tão extensas quanto a igreja, ela não é tão bonita por dentro como a de Siena, no mesmo estilo. Portanto, contemplá-la do lado de fora é suficiente. Outra forma de admirá-la é tomando táxi ou ônibus até a Piazzale Michelangelo, situada no ponto mais alto da cidade, para ver seu clássico pôr do Sol. Se estiver de carro, é bom chegar cedo, pois um espacinho ali é bastante concorrido. Aliás, vale a pena tomar cuidado com onde se estaciona, pois não é raro chegar ao Brasil com multa à tiracolo.

O Mercado Central combinado com a feirinha do lado de fora dele também são excelente programa. Come-se bem sem desembolsar tanto e compram-se pashminas de lã a bons preços. Blusas e bolsas de couro são objetos de desejo, mas têm preços salgados. Perto dali tem unidade da fast-fashion italiana OVS, com excelente custo-benefício.

Giardino di Boboli (13,75 euros) vale a visita e parece saído de conto de fadas, assim como o Palazzo Pitti (20 euros), que foi residência da família Medici. Ambos ficam no Outrarno, ideal para jantar ou badalar nos arredores movimentados da Piazza Santo Spirito.

GUIA DE VIAGEM

COMO IR

Há voos regulares para Roma. Dezenas de companhias aéreas levam ao destino com passagens que variam de R$ 2.500 a R$ 5.500 dependendo da época do ano. O vôo direto leva cerca de 11 horas. <EM>

ONDE FICAR

Em Roma: Tirreno Hotel (Monti) – cerca de R$ 420 a diária com café da manhã.Em Colle di Val D’Elsa: Relais Della Rovere (foto) – cerca de R$ 500 a diária com café da manhã e com estacionamento. Em Florença: B&B Vilino Il Leone (Oltrarno) – cerca de R$ 350 a diária com café da manhã – é possível estacionar em frente ao hotel. Em Verona: Hotel Mastino (Portal) – cerca de R$ 500 a diária com café da manhã.

COMO SE DESLOCAR

Em Roma de ônibus e Metrô. Alugar carro no útlimo dia para ir à Toscana. Estrada até Colle di Val D’Elsa é muito boa e a dica é que os italianos não dirigem na pista da esquerda, eles a utilizam apenas para realizar ultrapassagens, e permancem à direita. Nas estradinhas vicinais, atração à parte, é preciso ter cautela para não atropelar nenhum animal, por exemplo, javalis. Para ir à Florença vale a pena passar pelo Chianti. Na cidade, o ideal é se deslocar por ônibus ou táxi, já que muitos espaços são demarcados para moradores estacionarem e há poucas vagas disponíveis. Para ir a Pisa vale mais a pena ir de trem. Porém, a estrada para ir de carro é boa também. De Florença a Verona é um pouco mais distante, cerca de duas horas, mas é tranquilo dirigir. E há campos de girassóis no meio do caminho. Chegando em Verona vale devolver o carro e andar a pé. Depois seguir a Veneza de trem e então tomar o avião de volta ao Brasil. <EM>

ONDE COMER

Em Roma, no Trastevere, tem a excelente e econômica pizzaria Dar Poeta. A quem pretende desembolsar mais, há o Sabatini e o Al 22.

Em Colle di Val D’Elsa há o estiloso Portanova, que fica na outra ponta da cidade murada, numa espécie de torre de um castelo. O L''Angolo di Sapia, do outro lado do centro histórico, é bacana para ir no fim da tarde, pela linda e bucólica vista, e tomar uma taça de vinho. E o Numero Dieci é alternativa barata e saborosa.

Em Florença, perto do Duomo, tem a Tavernetta Del Battistero, com bons preços. Nesses lugares gasta-se de 10 a 15 euros por pessoa e por refeição.

QUANDO IR

Nessas localidade da Itália sempre é tempo de ir. O melhor é durante a primavera, entre maio e junho, pois as temperaturas são agradáveis e os dias já são mais longos, só que sem os preços proibitivos do verão nem sua lotação característica.

MOEDA

Euro. O euro turismo está cotado na casa dos R$ 3,90.

VISTO

Não é necessário.




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