Eles não nos abandonam

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Marcela Munhoz

 

Quem tem animal de estimação sabe muito bem que não estou exagerando por ter escolhido o título da coluna desta semana. Não é à toa que a expressão ‘melhor amigo do homem’ seja repetida sempre quando se trata dos bichinhos, que não ligam para classe social, crença e país de origem dos seres humanos que os adotam. Para eles, a linguagem é única e universal: o amor. Ainda não acredita? Basta observar os moradores de rua. Não é difícil encontrar especialmente cachorros ao lado dos companheiros na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.

Há muito tempo cientistas e especialistas de vários países investem em estudos para tentar descobrir os motivos que fazem essa ligação ser tão forte. Além, claro, da domesticação, que ocorreu há milhares de anos, os japoneses atribuem à ocitocina, hormônio produzido na glândula hipófise superior, que tem conexão com o hipotálamo, região do cérebro ligada ao bem-estar. Segundo eles, quanto mais o dono demonstra carinho e proteção, mais o animalzinho produz essa substância, também conhecida como hormônio do amor. Olha o amor aí novamente.
E são vários os exemplos que não me deixam mentir. A história de Marronzinho e Sandro é uma delas. Há poucas semanas, o morador de rua Sandro, 40, convulsionou e deu entrada no setor de emergências do Hospital Humanitário, em Limeira, Interior de São Paulo. Quando os médicos abriram a porta da ambulância ficaram surpresos ao ver que seu cachorrinho há três, quatro meses tinha o acompanhado. Ele também deu um jeito de entrar junto no hospital e, por lá ficou, fazendo vigília por 30 horas. Até que Larissa Maluf, da ONG Alpa, foi avisada.
 
 
“Ao chegar, vi que Marronzinho estava sendo superbem tratado, com comida, água, tapetinho e um aviso para respeitarem o cachorro, pois era de um paciente. Todos os envolvidos na história foram muito sensíveis”, conta Larissa. Com medo de ele se perder e não mais conseguir voltar, ela levou o animal a um veterinário para tomar banho, cuidar das pulgas e carrapatos. Ele também foi vacinado e microchipado. “Ficou com a gente até que seu dono se recuperasse. Após seis dias, tivemos a notícia de que Sandro teria alta. O reencontro foi emocionante”, conta. Depois de saírem do hospital, Sandro e Marrozinho foram acolhidos pela ONG Anjos da Noite. A trama poderia ter acabado por aí, mas não. Depois de ver toda a repercussão do encontro na televisão, a família do morador de rua o reconheceu. Havia dez anos que eles não tinham notícia de Sandro. Hoje, todos estão juntos e passam muito bem. “Jamais vamos separar esses dois”, disse a irmã do ex-morador de rua, que tem dificuldades para se comunicar, mas não para cuidar do companheiro de quatro patas.
O caso é um dos vários que a Alpa já testemunhou durante os 21 anos de vida. “Faz parte do nosso dia a dia, mas o Marrozinho ajudou muito a reforçar a enorme importância da posse responsável. Ele estava sendo tão bem cuidado na rua pelo Sandro que não abandonou seu dono de jeito nenhum. Infelizmente, são muitas as vezes que o mesmo amor não é dado dentro de mansões”, diz Larissa. Acho que todos temos muito o que aprender com o Marrozinho, não?
Em tempo: estima-se que, só no Brasil, existam mais de 30 milhões de animais abandonados, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Lembrando que abandonar e maltratar animais é crime, de acordo com o artigo 3º do Decreto Federal 24.645/34 e o artigo 32 da Lei Federal 9.605/98. A lei prevê pena de três meses a um ano de prisão e multa aos infratores. Até existe em São Paulo delegacia que investiga esses casos. Portanto, denuncie: (11) 3224-8208, 3224-8480 e 3331-8969. ?Este é um assunto para a próxima coluna. Tem alguma sugestão? Ligue no 4435-8364 e fale comigo.
 
Homenagem
O mundo dos pets é inacreditável. Existe de tudo. Até caricatura. A ideia do Seri, ilustrador do Diário, em dese­nhar os animais surgiu quando ele rabiscou a Gilda – minha cachorra – para o caderno infantil Diarinho. Elogiei e perguntei por que não passava a fazer caricatura dos bichinhos. Seri topou. “Quando comecei com os desenhos, brincava dizendo que se fizesse um dálmata, teria feito todos os dálmatas, pois são iguais. Me enganei. Cada bicho tem suas particularidades, que vão além de uma manchi­nha aqui e um rabo mais comprido ali. Eles têm personalidade”, conta. “Outra coisa que me surpreende neste projeto é a receptividade dos donos. Eles vibram e se emocionam, pois os pets são como filhos para eles. São suas extensões em forma de bicho.” Seri pretende montar exposição com os desenhos e depois, quem sabe, uma loja virtual com seu trabalho impresso em objetos. O ilustrador ­– cujo contato é ilustradorseri (no Facebbok) – se sensibilizou com a história do Marronzinho e vai desenhá-lo. Veja na próxima coluna.
 



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