O realizador de sonhos

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Marcela Munhoz

Muitos buscam a vida inteira pela felicidade plena, outros, por um amor que mantenha sempre o coração repleto. Há ainda os que só sorriem se puderem ver todos à sua volta da mesma maneira. Coisas que, nesta existência, são raros os que conseguem. Existe uma parcela de seres humanos, porém, que procura alcançar nem muito nem pouco, mas o equilíbrio. Jayme Monjardim faz parte deste grupo. Com a maturidade, o diretor de cinema e televisão – que completou 60 anos neste ano – vem colhendo paciência, tranquilidade e sabedoria para optar pelo que realmente importa. “Reconheço que durante muito tempo a prioridade foi o meu trabalho. Mas a vida foi ensinando a buscar o equilíbrio. Um câncer e a nova oportunidade de continuar aqui me fizeram rever as coisas. E, agora, o filme O Vendedor de Sonhos trouxe mais reflexões. Já parou para pensar como usamos nosso tempo com futilidades?”, analisa Monjardim durante entrevista à Dia-a-Dia. Filho do empresário André Matarazzo e da cantora Maysa, ele é pai de quatro, a mais nova tem 6 anos.

A história de Augusto Cury, dividida em três livros e um filme, que estreia dia 8 de dezembro nos cinemas, tem como protagonista um indigente (vivido por César Troncoso), que resgata um psicólogo a ponto de se suicidar (Dan Stulbach). Com passado difícil, o homem se autointitula O Vendedor de Sonhos e tenta convencer as pessoas justamente a repensarem suas prioridades. “Só o título já havia me chamado a atenção. Depois que li o roteiro, então, não abri mão do projeto. É que chega uma hora na nossa vida que optamos também pelo que queremos trabalhar e eu quero contribuir para a mudança das coisas, tanto na televisão quanto no cinema. E este é um projeto transformador, vem em um momento em que o mundo está precisando de um pouco de alento.” Este é o quinto trabalho do diretor nas telonas, que assinou também o consagrado Olga (2004). Confira mais um pouco do bate-papo.

Por que você escolheu alguém não tão conhecido dos brasileiros para estrelar o filme?

Se César (uruguaio que atuou em Banheiro do Papa e nos brasileiros Faroeste Caboclo, Hoje e O Tempo e o Vento, além da novela Flor do Caribe) fosse um ator conhecido, as pessoas iam ter a sensação de que ele estava interpretando. Queria alguém que realmente pudesse passar por um vendedor de sonhos real e bem humano. Mas, no fim das contas, quis contar uma história cuja grande protagonista é a palavra.

Como fugir um pouco do lugar comum de considerar a história uma ‘autoajuda’?

Fiz questão de não cair na pieguice, por isso a insistência de humanizar o máximo, de fazer as pessoas acreditarem que poderia ser real. O fato é que está cheio de ‘vendedor de sonhos’ por aí, mas as pessoas não estão enxergando. A gente não sai mais na rua, sente medo da violência. Tem um acidente na estrada e são poucos os que param para ajudar. Enquanto algo parecido não acontece com a gente ou com a nossa família não temos consciência da importância da solidariedade. Se não tivermos esperança não semearmos, não tomarmos atitudes, não vai dar nada certo. Às vezes, basta uma vírgula para continuar uma vida, é tudo o que a pessoa espera e nós podemos ser essa vírgula.

No papel de comunicador, como você pode contribuir?

O ar que eu respiro são as histórias que eu conto. Todo dia agradeço muito por ter a oportunidade de trabalhar fazendo isso, de poder trazer um olhar mais equilibrado para as coisas, para os telespectadores e espectadores. Quando me entrego a um projeto é a fundo, porque sei que vai valer a pena.

Em 2016 você completou 60 anos. Como se sente agora em relação a quando era mais novo?

Estou muito mais equilibrado, mais preparado. O tempo é senhor de todas as coisas. A cada década nossas cabeças vão ficando mais maduras e vamos percebendo que temos o direito de voltar atrás, se precisar. O tempo ensina e vai mostrando quais são os valores mais importantes.

O que você pode adiantar sobre Eu Te Darei o Céu (filme que começa a ser rodado no começo do ano)? E sobre as próximas novelas?

Sempre tive o sonho de falar sobre a vida de uma mulher mais velha, de desvendar este universo. Alice, a protagonista, é cuidadora. Ela vive para ajudar e vai tendo o mundo revelado. Enquanto as pessoas vão morrendo, Alice descobre a vida. É um filme pequeno, simples, mas muito emocionante. E existem muitas brasileiras com este perfil. À medida em que vou contando o drama, vou fazendo crítica profunda ao sistema de Saúde, uma vergonha no Brasil, por sinal. Na televisão, estou em Amor e Morte, título provisório ainda. A trama é inspirada na obra de Rubens Fonseca e devemos começar a gravá-la apenas no fim do ano. No meio disso, ainda estou envolvido em uma minissérie. E como eu disse: só escolhi estes projetos porque têm uma mensagem a passar. Só assim consigo mergulhar.




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