Mirei no Tinder, acertei um pokémon? Isso é o que dá mentir a idade nas redes. Foram horas de peelling, manicure, cabeleireiro e botox, tudo isso no Photoshop. Para quê? Para tentar sair com alguém mais jovem que eu. Comecei procurando desesperadamente no Tinder:

Antônio

Esportes: Videogame e truco; preferência culturais: forró e churras em Cidade Ocian; nível escolar: sertanejo universitário.

José Dias

Detesta: Dilma; preferência sexual: Bolsonaro.

André

Passatempo: redes sociais; profissão: designer de gif animado; esporte: zoar no face; comida preferida: migalhinhas no teclado.

Zildo

Preferências amorosas: com ênfase para mulheres estrangeiras; relacionamento sério: com Michiko, sua boneca inflável vietnamita.

Amaral

Passatempo: mandar nudes

Pedi alguns só por curiosidade. Três minutos depois chegaram dois gigas só de fotos do Amaral de todo jeito. Nude dele na Patagônia, nude no comício do Donald Trump, na Capela Sistina...

Henrique

Sem foto; vários dados em branco; localização: Perto.

Que homem misterioso seria? Combinei de encontrá-lo dali 20 minutos. Ele chegou num carro preto. Filmado. Ar e direção. Henrique de terno. Óculos escuros. Perfumado.

Aceita bala?

Estou de dieta...

Pega bala, ordenou com o cestinho decorado na mão esquerda sem aliança...

A boca secou. Ele adivinhou e ofereceu uma água com gás.

Te levo pra onde?, perguntou cínico.

Vamos devagar...

A senhora está com medo de mim?

Eu não, estamos na marginal e aqui é 50 por hora. Vamos pro motel, ataquei desafiadora.

Qual?

Você escolhe, mandei provocativa.

Entramos na garagem. Henrique desceu, deu a volta no carro, abriu a porta para mim. Desci fingindo inocência.

Cinquenta reais, ele disse, me surpreendendo.

Você é garoto de programa? Tudo bem, já estamos qui mesmo.

Não senhora, sou Uber.

Eu havia me enganado nos aplicativos. Subi para o quarto sozinha. Me enfiei na banheira e passei a tarde toda caçando pokémons. De novo.