Amor é antídoto

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Marcela Munhoz

Não importa a religião, a crença ou a cultura de um povo, existem algumas verdades que se encaixam perfeitamente na vida de qualquer ser humano, especialmente quando se fala de dor. ‘A dor é inevitável, o sofrimento é opcional’, diz uma frase budista. ‘Quando a dor te visita, reflete-te a mensagem, pois não há sofrimento sem significação’, é o recado do espiritismo. Na Bíblia, a mensagem também é clara: ‘No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci’. Enfim, é sempre depois das mais fortes tempestades que aparecem os mais lindos arco-íris, é quando o Sol volta a brilhar verdadeiramente. E neste processo o amor é essencial. “Nos momentos de mais sofrimento, quando mais precisei, foi o amor que me segurou, que me salvou”, revela Fernanda Abreu ao telefone para a Dia-a-Dia. E não precisou de muita sagacidade deste lado da linha para perceber o quão feliz estava aquela voz inconfundível da garota carioca suingue sangue bom. “Este é o melhor momento da minha vida”, compartilhou a cantora, que completa 55 anos no dia 8 de setembro.

E vários são os motivos que enchem o coração da artista de alegria, a começar por Amor Geral, CD de inéditas com dez faixas, que chega mais de uma década depois de sua fase mais complicada. “Minha mãe teve um tumor na cabeça e ficou em coma por seis anos até morrer, me separei de um casamento de quase 30 anos. Precisei me desapegar de quem estava partindo e, ao mesmo tempo, me apeguei em quem estava ficando”, conta. Além disso, Fernanda foi escolhida pelo tema ao olhar também para fora do seu universo. “É notável o crescimento do ódio, da intolerância. As pessoas estão raivosas e sem respeito. Não à toa que estão se explodindo. O capitalismo chegou ao seu limite e ninguém está conseguindo segurar a onda. Ao mesmo tempo, a ideologia cínica e arrogante de mundo está desmoronando. A gente precisa mesmo evoluir. O respeito é a peça fundamental do amor.”

As músicas do novo álbum – e pessoas, como as filhas Sofia, 24, e Alice, 16, além do namorado, o produtor musical Tuto Ferraz, 49 – ajudam a refletir ao mundo uma novíssima Fernanda. Em Outro Sim, por exemplo, ela consegue chegar à ponderação sobre como tudo passa nessa vida, tudo o que não veio para ficar. “Uma hora o trem acaba indo para outra estação. É claro que não é fácil aceitar nem ser aceito, mas as relações humanas são assim. Neste meio do caminho acabei me apaixonando e estou vivendo um amor de ponte aérea. Sempre curti escrever sobre o que estava vendo, mas agora é sobre o que está acontecendo comigo. É por isso que Amor Geral é o meu disco mais verdadeiro.”

Fernanda está curtindo muito o presente e vislumbra, claro, o futuro, mas o passado continua também lhe proporcionando alegrias. Ela está vibrando, e muito, com o relançamento da Sony de todo seu catálogo de discos e videoclipes nas principais plataformas digitais, como Spotify, Apple Music e Vevo. “O bacana é que estou com trabalho novo e trazendo na mesma esteira tudo o que já produzi na vida. As pessoas vão conseguir ver a diferença e a evolução, mas vão perceberam que também consegui construir uma assinatura digital muito própria, com minha mistura de funk, rap e melodia.”

Por essas e outras que a cantora – cuja estreia no mercado musical foi nos anos 1980 na banda Blitz ­– surge ainda mais forte, inspirada e com vontade danada de trabalhar. Ela assina, inclusive, a produção do projeto. “Apesar de não ter lançado disco nos últimos dez anos, compus, conheci muita gente, foi rico. Fiz tudo com muita calma durante dois anos e participei de todo o processo. Adoro ter um domínio maior de tudo. Sinto que estou andando para frente, não tem nada requentado.” Amor Geral – que conta, inclusive, com a participação do Afrika Bambaataa, pai do hip hop norte-americano, em Tambor – chegou em maio com muitas críticas positivas. Agora, a cantora está se preparando para sair em turnê e espalhar todo esse momento especial por aí. “Acabei de montar 70% do show. Já apresentei no Rio quatro músicas novas e foi excelente. Provavelmente consigo estrear em outubro. Definitivamente está sendo um ótimo ano e 2017 vai ser melhor ainda, tenho certeza.” É, sem tempestade não tem arco-íris, e sem arco-íris não existe pote de ouro. Hora de buscá-lo, Fernanda.

 



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