Nos passos de Gandhi

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Miriam Gimenes

Mahatma Gandhi (1869-1948), com seu cajado em punho, percorre, de março a abril de 1930, um trajeto de 400 quilômetros rumo ao litoral indiano – de Ahmedabad até Dandi, no Oceano Índico –, em protesto contra a proibição da extração de sal imposta pelos britânicos. Foi seguido por uma multidão que, ao fim da peregrinação, o viu pegando um punhado de sal, gesto repetido por todos os presentes. Ao evento deu-se o nome de Marcha do Sal.

E a fim de repetir o trajeto feito por Gandhi, o fotógrafo Érico Hiller, grande estudioso da palavra do líder indiano, arrumou seus pertences e saiu rumo à Índia em novembro do ano passado. O resultado dessa sua incursão pode ser vista no livro A Marcha do Sal (Vento Leste, 252 pág., R$ 150), que será lançado dia 18, às 18h, na Leica Gallery (Rua Maranhão, 600), em São Paulo.

“Sempre fui curioso a respeito das ideias gandhianas, mas nunca achei que fosse fazer algo na fotografia que não tinha espaço para trabalho inedito. Há dez anos pesquisei sobre a vida dele, li sobre A Marcha do Sal, e lembro que naquela ocasião pensei em fazer essa caminhada. No ano passado tinha terminado projeto grande sobre rinocerontes, o Brasil estava na crise, e vi que estava na hora de retomar os projetos que tocavam meu coração”, lembra o fotógrafo. Além disso, ele descobriu que o Ashram onde o líder havia começado a caminhada, o Sabarmati, estava completando 100 anos, uma data histórica, portanto. Se preparou então tecnicamente, buscou patrocínio e seguiu rumo à Índia.

De todas as fotografias que registrou no percurso, feito em 25 dias, selecionou 100 delas e compôs o livro – algumas estarão em exposição no local do lançamento para venda. “O resultado ficou bem coeso para quem curte história, porque falo do Gandhi, mas falo muito de fotografia também. Não vou dizer que é autobiográfica, mas tem muito das minhas impressões da caminhada, porque fiz exatamente o trajeto que o Gandhi fez, tudo a pé, e a figura estava sempre presente nos lugares de alguma maneira.”

Hiller acrescenta que quem tiver a oportunidade de folhear o livro, verá que ele manteve o foco nas pessoas que vivem em uma região de imensa importância para a Índia, já que foi o cenário para o processo de independência.<EM>Conta que muitos dos moradores dos vilarejos por onde ele passou disputavam a honra de hospedá-lo e agradá-lo e, para tanto, ofereciam até comida menos apimentada. 

E quanto à cultura da não violência, propagada pelo líder indiano, principalmente neste trajeto? “Hoje lá é um país com poderio bélico-nuclear. A Índia que o Gandhi desejou ver no futuro não é essa que vemos hoje. É muito desigual, não trata as mulheres como devem ser tratadas. Tenho a leitura que foi uma semente que ele plantou, uma mensagem para humanidade. Assim como Jesus, o próprio Buda, o Gandhi tem uma relevância atemporal.” Em uma época em que o ódio é propagado sem limites, inclusive em solo brasileiro, rever os seus conceitos, na opinião do fotógrafo, seria um alento. “Falar de Ghandi hoje em dia seria um bálsamo, um remédio para esse tempo que estamos experimentando no Brasil. Mais do que nunca o legado dele é necessário. e talvez o meu livro esteja fazendo um grande favor para esse período de polarização política e ideológica”, finaliza.  




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