A caminho da Índia

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Heloisa Cestari

Em 1497, o navegador português Vasco da Gama descobriu o cobiçado Caminho das Índias, até então só feito por mercadores que atravessavam cidades, rios e desertos de camelo para levar as especiarias do Oriente à Europa. A própria descoberta do Brasil teria sido resultado de um erro de cálculo na rota indiana. Passados cinco séculos, é hora de o brasileiro refazer o percurso ­- desta vez, de avião -­ para descobrir algo ainda mais especial que o gengibre ou a canela de outrora: a milenar cultura indiana, que já começa a deixar saudades depois de ocupar durante meses o horário nobre da Rede Globo com a novela Caminho das Índias.

De acordo com Moacyr Cláudio Ramos, o Dedé Ramos, proprietário da Latitudes, empresa especializada em roteiros pela Ásia, cerca de 15 mil brasileiros visitam a Índia anualmente, atraídos pelo fascínio, quase que hipnótico, provocado pelo perfume dos incensos, a música dos encantadores de serpentes, os mantras, pela opulência dos seculares hotéis-palácios e por uma filosofia singular, que cultua a vaca como animal sagrado ao lado de personalidades que fizeram de sua vida um exemplo para toda a humanidade, como Madre Tereza de Calcutá e Mohandas Karamchand Gandhi, o líder religioso que conseguiu libertar a Índia do domínio britânico, em 1947, pregando simplesmente a não-violência diante das cruéis investidas da coroa.
Um pacífico 'golpe' de mestre -­ ou melhor, de mahatma (grande alma) -­ que exalta o amor, assim como o monumento indiano mais famoso do mundo: o Taj Mahal, eleito em 2007 como uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo.
 
É bem verdade que, a princípio, os costumes do país causam um estranhamento proporcional ao fascínio. Na terra dos hindus, religião e tradições se fundem de forma quase que inconcebível pa- ra um ocidental, e os contrastes escondem uma resignação difícil de compreender. De um lado, palácios suntuosos, ornados com pedras preciosas, garantem aos hóspedes autênticos dias de marajá -­ não à toa, o país detém um dos maiores PIBs (Produto Interno Bruto) e mantém sempre um representante no topo da lista dos homens mais ricos do mundo, a exemplo dos bilionários Mukesh Ambani e Lakshmi Mittal. Do outro, uma multidão formada por quase 700 milhões de indianos vive na miséria, tendo de se manter com menos de US$ 1 por dia.
 
Igualmente desconcertante é imaginar que tradições cultivadas há 5.000 anos persistam com tanta evidência em meio à tecnologia de ponta da indústria de chips e softwares. E que apesar do arcaico sistema de castas, a Índia é hoje a maior democracia do mundo, tendo à frente uma mulher: Pratibha Patil, eleita à presidência no ano passado. E não é só na economia ou na política que os contrastes impres-sionam.
 
Com um território de 3,2 bilhões de quilômetros quadrados e 1,1 bilhão de habitantes, a Índia apresenta um misto de paisagens que vai dos picos nevados do Himalaia, no Norte, às praias com coqueiros do Sul, passando pelo famoso deserto do Rajastão. Em uma mesma cidade, a temperatura pode variar dos 10ºC negativos a um calor de 48ºC. O clima seco castiga tanto nos meses de março a maio que as chamadas monções ­ longos períodos de chuva intermitente, de junho a setembro ­ são recebidas pelos indianos como uma bênção dos céus.
 
A melhor forma de percorrer esses e outros contrastes do infindável território indiano é viajar de trem. O país possui o mais extenso sistema ferroviário do mundo. Uma herança do domínio britânico, que também introduziu o telégrafo, a modernização nas comunicações e a língua inglesa no país.
 
É no trem que se começa a observar os costumes, o tradicional sistema de castas que rege a sociedade até hoje e o belo contraste entre o tom pastel da poeira dos desertos e as cores vivas dos saris.
Um colorido que encanta os olhos e enche de vida as lembranças do turista quando retorna ao Brasil. E que leva a duvidar se são mesmo apenas as serpentes que se deixam encantar de forma hipnótica pelos movimentos, sons, aromas e cores da Índia.
 

NOVA DÉLHI

Namastê! Na tradução: "o deus que há dentro de mim saúda o deus que há dentro de você". Com esta saudação, acompanhada por um gesto de mãos unidas e leve inclinar da cabeça, os indianos recepcionam os turistas na chegada ao caótico aeroporto de Nova Délhi, a porta de entrada para os encantos da Índia. Dividida entre a parte velha e a nova, a capital chama a atenção pelo contraste entre o antigo e o moderno, aliando o trânsito e a poluição de toda grande metrópole à hospitalidade típica das pequenas cidades.

Um passeio por Délhi serve como um bom aperitivo para o viajante que pretende entender um pouco dos costumes indianos antes de se aventurar pelas zonas rurais. Nas praças, magos, ursos dançantes e profetas entretêm a multidão em meio às inúmeras tendas de artesanato.

Formada pela junção de oito cidades construídas ao longo de vários séculos por imperadores diferentes, Délhi concentra uma enorme quantidade de palácios, fortes e templos religiosos. Vale reservar um dia para visitar a mesquita muçulmana Jama Masjid (a segunda maior do mundo); a altíssima fonte Qutub; o Museu Nacional e os memoriais dedicados a Mahatma Gandhi, a Nehru (com fotos e jornais sobre a independência) e a Indira Gandhi, cujo acervo abriga objetos pessoais e até o sari sujo de sangue que a estadista vestia quando foi asasinada.
 
NORTE

Além dos pontos turísticos e das lendárias tendas de artesanato, Délhi serve como ponto de partida  seja de avião, trem ou ônibus  para todos os demais cantos do país. Comece a viagem pelo próprio Norte, onde estão as cidades de Agra, Jaisalmer, Jaipur, Pushkar, Khajuraho, Varanasi e a cadeia de montanhas do Himalaia, já na divisa com o Nepal.

Conhecida como o Triângulo de Ouro, a região abriga o famoso Taj Mahal, em Agra, a antiga cidade fantasma de Fatehpur Sikri e o Palácio dos Ventos na exótica cidade rosa de Jaipur.

Outro destaque fica a Sudeste de D&eac


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