Maternidade Proibida

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Andrea Ciaffone

Nário Barbosa
Rosana teve gêmeos com 52 anos

Nos últimos 100 anos, os direitos das mulheres no Ocidente deram um salto inédito na história. As conquistas vieram nos mais variados âmbitos e alcançaram um número crescente até se tornarem universais. Hoje elas votam, vão à universidade, competem no mercado de trabalho, alcançam independência financeira, desfrutam da liberdade sexual e têm acesso às técnicas de reprodução humana desenvolvidas pelas ciências médicas e biológicas. Só que não é bem assim aqui no Brasil. Embora a Constituição Federal de 1988 capriche na defesa das liberdades em seu espectro mais amplo, o CFM (Conselho Federal de Medicina) baixou em maio de 2013 uma resolução que proíbe a realização de procedimentos de fertilização in vitro em mulheres a partir dos 50 anos e prevê sanções para os médicos que ultrapassarem esse limite. A justificativa é que os riscos são grandes demais para a saúde das mães, que podem desenvolver doenças gestacionais como pressão alta e diabetes, e dos bebês, que têm grande chance de nascerem prematuros. Mas o conselho deixa claro que esse limite ético é para evitar que médicos, por pressão das clientes ou mesmo interesse comercial, realizem procedimentos de risco. 

 
Desde a proibição, dez meses se passaram e bebês muito desejados ficaram sem vir ao mundo para iluminar a vida de cinquentonas aptas para a maternidade. Mas, a partir deste mês de março, que celebra os Direitos das Mulheres, começa o contra-ataque.  Por iniciativa do deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB), um decreto legislativo que pretende sustar a proibição começa a ser discutido na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara Federal. “Esse tipo de regra é extremamente preconceituosa. É discriminação contra quem tem mais idade, construiu um cenário de segurança para ter filhos e depois se vê impedida por uma regra generalista, que não considera as condições físicas caso a caso”, avalia o deputado. “Isso é inconstitucional”, completa. A movimentação faz o momento ser perfeito para a sociedade se engajar no debate dos limites entre a segurança médica e o desejo de ser mãe. 
 
VIDA REAL
Girando loucamente em sofisticadas cadeiras de design, Raphael e Anita, gêmeos que completam 5 anos em maio, são tudo de bom em matéria de filhos: lindos, inteligentes, charmosos e criativos – inclusive na mudança da decoração em parque de diversões. “Quando decorei o apartamento não imaginava que as crianças iam transformar tudo em brinquedo”, diz, rindo, a escritora, apresentadora e empresária Rosana Beni, 57 anos, orgulhosa mamãe da dupla. Minutos depois, vários enfeites viraram uma instalação que Raphael exibia com orgulho e que foi devidamente elogiada. 
 
“Eles nasceram quando eu tinha 52 anos. Tive uma gravidez exemplar. Engordei apenas 11 kg, eles tinham peso adequado e não desenvolvi nenhuma doença”, descreve Rosana. Hoje esse presente de Deus entregue pelas mãos da ciência já não seria mais possível por causa da restrição imposta pelo CFM. “Os médicos dizem que estão tentando proteger a saúde das mais velhas que querem ter filhos. Mas, até onde eu sei, medicina se pratica analisando caso a caso porque cada corpo é diferente. Se é assim, essas regras ‘tamanho único’ não têm cabimento”, diz Rosana, que tem na família casos de gravidez tardia. “Minha mãe nasceu quando minha avó tinha 54 anos. Naquele tempo não existia reprodução assistida e tudo correu muito bem”, observa. 
 
Esse tipo de situação não chega a ser um tema recente. Na Bíblia há casos relatados, inclusive o mais famoso envolve a Sagrada Família. Isabel, prima de Maria (mãe de Jesus Cristo), engravidou em idade avançada e teve um menino, João, mais conhecido pelos católicos como São João Batista. Independentemente da discussão teológica sobre a possibilidade de haver um milagre envolvido nisso, o fato é que a gestação tardia faz parte da biologia humana. Como as condições de saúde evoluíram muito no último século, é cada vez mais comum ver mulheres acima dos 35 anos engravidando naturalmente. Sem qualquer intervenção médica. “Temos de convir que os 50 anos de hoje não são os mesmos de antigamente. As mulheres estão mais fortes, mais ativas e mais joviais”, destaca Rosana. 
 
Carol Couto Fotografia
A atriz Solange Couto conseguiu engravidar de Benjamin naturalmente. Foto: Carol Couto Fotografia
Há até casos mais extremos. A atriz Solange Couto, por exemplo, foi abençoada com o nascimento de um filho aos 54 anos, Benjamin, 2. A eterna Dona Jura, da novela global Caminho das Índias, afirma que o bebê veio pelo método natural. “Fui mãe aos 17, aos 35 e aos 54 anos e hoje me sinto muito mais preparada para curtir tudo o que a maternidade proporciona de alegria e também de responsabilidade”, conta a atriz. Ela se diverte com a vida social do filhote recheada de festinhas de aniversário e comemora  também o fato de que vai ser avó. 
 
Há quem diga que uma mulher mais velha não tem a energia necessária para correr atrás de crianças pequenas. Rosana e Solange discordam. “Conforme a gente fica mais experiente, consegue coordenar melhor as necessidades e fazer tempo para brincar com as crianças. Já fui elogiada por ter sido a única mãe que nunca faltou a uma consulta médica – muita gente que teve filho na idade ideal manda a babá para o médico com as crianças – e por estar sempre presente nos momentos importantes deles. Eu me planejei para isso. Para mim a maternidade tem aspectos de responsabilidade importantes. Não é só colocar no mundo, é direcionar para que eles sejam pessoas que possam ajudar o mundo a ser melhor”, diz Rosana. Ela escreveu o livro Crianças Índigo, que fala sob uma perspectiva espiritualist


Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados